Por Jerdivan Nóbrega
A Rua de Baixo, hoje Rua Benigno Ignácio Cardoso D’Arão, surgiu por volta de 1810 a partir de um sítio pertencente ao cristão-novo João Ignácio Cardoso D’Arão e sua esposa, Catarina Moura Mariz. A família D’Arão, de origem judaica convertida ao cristianismo, estabeleceu-se nas margens do Rio Piancó, em terras que se estendiam desde o rio até a área onde hoje está o Hospital Distrital de Pombal. Essas terras foram posteriormente fragmentadas entre herdeiros ou apropriadas por famílias influentes da região.
A presença de cristãos-novos na região é marcada por práticas religiosas secretas. João Ignácio, improvisou uma sinagoga clandestina em sua residência na Rua de Baixo, onde a família reunia-se para ler a Torá em hebraico. Esse espaço funcionou como um centro de preservação da identidade judaica da família.
Até os dias atuais ainda podemos ver os vestígios do judaísmo que persistem em detalhes arquitetônicos, como os frontispícios de casas na Rua do Comércio e na antiga residência de Emília Benigno Cardoso (Dona Mila) na rua de Baixo, imóveis pertencentes a família Benigno Cardoso.
Detalhes arquitetônicos remetem ao judaísmo
Esses símbolos ou inscrições hebraicas, eram discretos para evitar perseguições, prática comum em comunidades criptojudaicas.
A família Benigno Cardoso destacou-se na ourivesaria, atividade historicamente associada a judeus devido a restrições medievais que os limitavam a ofícios como comércio e artesanato. As irmãs, Francisca Benigno Cardoso, além de dona Mila, filhas de Benigno Cardoso, exemplificam essa tradição.
Rua de baixa, um bairro criado por judeus
Com o tempo, a Rua de Baixo tornou-se um bairro diversificado, acolhendo operários, agricultores e artesãos. No entanto, sua localização próxima ao Rio Piancó a tornou vulnerável a cheias periódicas, agravando com a negligência do poder público.
Benigno Inácio, ourives como profissão
O nome “Rua de Baixo” era para contrastar com as ruas centrais mais valorizadas (“parte de cima”), reforçando divisões sociais. A renomeação para homenagear Benigno Ignácio Cardoso no século XX busca resgatar a memória da família fundadora.
Jerdivan Nóbrega é escritor