Por Prof. Dr. José Cezário de Almeida[1]

JERDIVAN NÓBREGA DE ARÁUJO, traz a lume uma das mais instigantes narrativas criminológicas oitocentistas que envolve a morte de uma jovem mulher de 16 anos, casada há 02 meses, já concebida de 05, assassinada a paulada e submetida a afogamento simulado pelo marido  “O CRIME QUE ABALOU A VILLA FEDERAL DE CATOLÉ DO ROCHA[2], um fato, saga que o autor acreditado, narra com a fidelidade peculiar contida na lavra de suas 20 obras literárias publicadas e em prelo, de natureza histórica, cultural, sociológica e criminológica.

Em seus estudos e pesquisas documentais insertos em seus livros e artigos, o autor os revela com dinamicidade e atitude dialógica do conhecimento, adotando o método de abordagem de pesquisa social, científica e acadêmica. O modus operandi do autor na busca da verdade real é um desafio à capacidade humana!

À luz do tempo, inspira-nos que o excelso Antônio Cândido de Melo e Souza (1918-2017), que nos lega a análise da crítica literária com supedâneo no método dialético associado à construção sociológica e do humanismo, dizia:

“a grandeza de uma literatura, ou de uma obra, depende da sua relativa intemporalidade e universalidade, e estas dependem por sua vez da função total que é capaz de exercer, desligando-se dos fatores que a prendem a um momento determinado e a um determinado lugar”.

Eventualmente, o nosso escritor, Jerdivan, à frente do tempo, não tenha aprioristicamente o desejo de amoldar-se à senda controversa da intemporalidade pretérita de sua pesquisa, mas, despertar compunção diante da realidade que nos medeia a violência contemporânea, principalmente contra a mulher. Assim, creio, o escritor avoca o – tempus est optimus judex rerum omnium-, acepção que o sensibiliza às detidas pesquisas, dias e noites, autonomamente, visando nos revelar o indecifrável arquivado havia séculos.

Obra desvencilhada da ficção

Leitoras e Leitores, é confessional que na minha longeva caminhada acadêmica jamais me submeti à autotutela de apresentação de uma obra literária instigante, desvencilhada de ficção, dentre as dezenas que as recomendei; impacta-me ao fazê-la à obra epigrafada do meu conterrâneo e coetâneo JERDIVAN NÓBREGA DE ARAÚJO, nada obstante a grandeza compilada “O CRIME QUE ABALOU A VILLA FEDERAL DE CATOLÉ DO ROCHA”, o  autor traz à baila um perscruto análogo ao in momentum newtoniano, primeiro, que gemina saberes historicistas, fundado em pesquisas hercúleas de documentos sui generis, impossíveis de acesso ao homem médio, que aludem à geopolítica loco regional das ocupações primevas dos sertões coloniais-imperiais, e, segundo, os aspectos passionais das relações de poder, dominação, ganância nas disputas e aquisições sem ônus de glebas territoriais, sob a única fundamentação de criação de gado… e dos imaginados fatos de mortes coletivas e extermínios de povos originários, principalmente indígenas, impiedosamente mortos – homens, idosos, crianças, nas mais diversas formas de vitupérios, violentados, mulheres e filhas estupradas, escravizadas, humilhadas, descartadas… e, ao final, todos e todas exterminados. Conectado à res temporales, ocorre, em 1862, um lúgubre crime insidioso, macabro, sob a égide da passionalidade – “o marido pérfido mata sua esposa”.

A obra em apreço nos traz fragmentos dos extratos sociais de uma época pretérita da nossa sociedade brasileira, cujas escalas temporais incluem nossos antepassados acerca de “dez gerações” de comportamentos, costumes e valores que ainda remanescem na visão contemporânea, carreando preconceitos discriminatórios, intolerância, hostilidade, implicância, perseguição, desconfiança, rejeição, repúdio, aversão, exclusão, machismo… mortes contra a mulher: feminicídio. Tantos outros, em razão minoritária, tais como misoginia, xenofobia, intolerância religiosa, gordofobia, LGBTfobia, capacitismo, antissemitismo…

Professor José Cezário

“O CRIME QUE ABALOU A VILLA FEDERAL

DE CATOLÉ DO ROCHA”

 

O enredo, trama palpitante, insta-nos à leitura ininterrupta, mais obra que nos lega o nosso genialíssimo escritor, pesquisador, historiador e jurista Jerdivan Nóbrega de Araújo, que revela com fidelidade e clareza os fatos, os acontecimentos, os lugares, as pessoas, a trama, a morte, as prisões, o julgamento da sociedade, o tribunal do júri, as decisões judiciais, a condenação, a absolvição do réu… “uma história trágica sem fim?” Qual o (meu) nosso julgamento? Leiamos! Recomendo-o!

[1] Docente do Mag. Superior Federal – Advogado.

[2] O Livro ta a venda no site da edita ideia (https://www.ideiaeditora.com.br/produto/o-crime-que-abalou-a-villa-federal-de-catole-do-rocha-3-de-setembro-de-1862-jerdivan-nobrega-de-araujo/?srsltid=AfmBOopvSJlUJP3jRseE5cOws9CE66FG2UXX1kdq5z7Sz5hMR6hh7SXP) , Livraria do Luiz e no  Sebo Cultura de Joao Pessoa :   https://lojasebocultural.com.br/produto/o-crime-que-abalou-a-villa-federal-de-catole-do-rocha-3-de-setembro-de-1862/

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