Uma História da Loja do Polvo

Jerdivan Nóbrega

 

Era 1984. Eu trabalhava no Centro de Triagem dos Correios, no prédio do centro de João Pessoa. Nosso setor era supervisionado por Ailton Rocha, irmão de Aracilba Rocha.

As janelas do nosso  setor davam para a Rua Desembargador Feitosa Ventura, onde um comerciante havia aberto uma pequena loja de confecções. Na fachada, ele estampou o nome do comércio:

“LOJA DO POLVO”.

Mal abrimos as janelas naquela manhã, Ailton Rocha ficou indignado com o que julgou ser um erro gramatical. Ele me pediu que eu fosse, em socorro do comerciante, corrigir o nome da loja.

—Vai lá e diz pra ele que tá errado. O certo é “LOJA DO POVO”.

Como não era da minha conta, me recusei a cumprir esse papel. No entanto, mais indignado do que querendo ajudar, o próprio Ailton foi falar com o comerciante, que não o recebeu muito bem. Os dois acabaram se desentendendo.

De qualquer forma, o comerciante não se deu por vencido. Na manhã seguinte, Ailton Rocha, implicante que era, abriu a janela e foi conferir se o rapaz havia corrigido o tal erro.

Ailton me chamou e disse: “Olha o que o fresco fez, Jerdivan. Não é que o safado não deu o braço a torcer e mandou desenhar um POLVO enorme na frente da loja?”.

Eu olhei para Ailton e falei:

—Ainda tá errado. Isso não é um polvo, é uma lula.

—Como assim? — indagou Ailton.

Respondi:

—Polvo tem oito braços. Essa aí tem oito braços e dois tentáculos. O pintor pegou a foto errada para fazer o desenho.

No dia seguinte, Ailton Rocha trouxe uma foto de uma lula e de um polvo e deslizou por baixo da porta do comerciante.

Mas não houve correção: por um b.om tempo a Lula estampou a fachada da LOJA DO POLVO  que era para ser LOJA DO POVO.

#Jerdivan Nóbrega é escritor e historiador

Imagem ilustrativa Google

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *