Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

A cidade de Pombal, situada a 400 quilômetros da capital paraibana, no coração do sertão nordestino, teve sua colonização iniciada em meados do século XVII. Sua fundação oficial, no entanto, data de 1698, quando o bandeirante Teodósio de Oliveira Ledo fundou o Arraial do Piancó. Este núcleo originário evoluiu para a Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó, depois para a Vila de Pombal e, finalmente, para a cidade que conhecemos hoje.

A formação da cidade é resultado dos conflitos com os povos originários, da implantação dos currais de gado e da intensa religiosidade dos entradistas portugueses, que para a região conduziram seus rebanhos e homens escravizados.

Atualmente, Pombal destaca-se pela organização da Festa dos Negros do Rosário, evento ancestral composto por quatro grupos folclóricos fundamentais:

 

  1. Irmandade dos Negros do Rosário;
  2. Negros dos Pontões;
  3. Os Congos;
  4. Reisado.

 

Todos esses grupos gravitam em torno da tricentenária Igreja de Nossa Senhora do Rosário, originalmente dedicada à Nossa Senhora do Bom Sucesso. As origens dessas manifestações estão profundamente ligadas à história da colonização e à formação social do município, um dos mais antigos do sertão paraibano.

  1. Irmandade dos Negros do Rosário

Pombal herdou dos escravizados a tradição das irmandades religiosas, especialmente a Irmandade dos Negros do Rosário. Tais irmandades, formadas sob a supervisão da Igreja Católica, surgiram em várias regiões do Brasil, inclusive na Paraíba. Em Pombal, a Irmandade foi originalmente constituída por pessoas escravizadas e descendentes africanos, que utilizavam esse espaço religioso para manter suas expressões culturais e afro-brasileiras, em um claro contexto de resistência e preservação identitária. Há indícios de que sua fundação remonte a 1786.

A Irmandade e formada pelos Irmãos de Opa, um tesoureiro, um  escrivão, a rainha e o rei.

  1. Negros dos Pontões

Os Negros dos Pontões surgiram como uma guarda real simbólica da Irmandade do Rosário. Eles formam o maior grupo folclórico da festa e sua organização e vestimentas remetem a um cortejo monárquico. O grupo é dividido, lideradas por um capitão que veste trajes brancos e um quepe no estilo marinheiro. Em suas apresentações, que acompanham as procissões, eles dançam de forma enérgica ao som da banda cabaçal, composta por instrumentos como 8 baixos, tambor, pífanos e lanças com fitas coloridas que agitam produzindo o som de macacas, Seus de seus integrantes são moradores da zona rural, frequentemente da mesma família (os Rufino e Daniel), hoje moradores do Quilombo dos Rufino e Quilombo dos Daniel.

  1. Os Congos

O grupo dos Congos é outro componente essencial da festa. Da mesma foram do Pontões o grupo é exclusivamente por homens, ele se apresenta no largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, entoando cantos e realizando danças que preservam as tradições afro-brasileiras. Tal como os outros grupos, sua origem está ligada à dinâmica social da escravidão e à formação de comunidades afrodescendentes, que desenvolveram seus cultos em torno da devoção a Nossa Senhora do Rosário. Sua manifestação é um rico exemplo de sincretismo religioso, associando elementos do catolicismo a tradições africanas e indígenas.

  1. Reisado

O Reisado foi o último grupo a ser incorporado às festividades da Festa do Rosário em Pombal. Originalmente, suas apresentações ocorriam apenas no Dia de Reis. Atualmente, o grupo participa de algumas procissões, especialmente no encerramento da festa, completando o mosaico cultural e religioso do evento.

Em conjunto, esses grupos folclóricos representam a continuidade histórica das culturas afro-brasileiras na Paraíba. Eles são fruto da resistência cultural dos descendentes de africanos escravizados e demonstram a importância das irmandades religiosas como instrumentos de organização social e preservação cultural. Apesar de sua resistência por mais de 200 anos, essa riqueza cultural permanece paradoxalmente desconhecida por muitos paraibanos, ignorada pela PBTUR e, muitas vezes, subestimada pelos próprios pombalenses. São, portanto, um patrimônio vivo que clama por maior reconhecimento e valorização.

Jerdivan Nóbrega é escritor e pesquisador

 

 

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