Jerdivan Nóbrega de Araújo
Cynthio Cilaio Ribeiro nasceu em João Pessoa no dia 4 de dezembro de 1902 e faleceu em 29 de janeiro de 1980, aos 77 anos de idade. Originário de uma família de artistas — seu pai e seus tios eram atores dramáticos —, Cilaio descobriu sua vocação ainda na infância. Influenciado pelo ofício paterno, transformava a própria casa em palco para peças amadoras, um prenúncio da vida que o aguardava nos teatros da cidade.
Desde cedo, dedicou-se também à arte da ventriloquia. Seus bonecos, batizados com nomes como Benedito, Zezinho, Caviloso e Dona Genoveva, tornaram-se célebres, especialmente nas apresentações que fazia em creches, asilos e orfanatos, onde era carinhosamente conhecido como “Vovô Cilaio”.
Sua atuação nas artes cênicas, porém, foi muito além do palco solitário do ventríloquo. Cilaio atuou como diretor artístico de vários grupos teatrais amadores e brilhou em diversas peças, com destaque para “O Coração Não Envelhece”, “Olhos Sem Luz” e “Rosa de Nossa Senhora”. Sua última apresentação no palco ocorreu aos 73 anos, na peça “Hoje a Banda Não Sai”, de Marcos Tavares. Sua versatilidade estendeu-se ao cinema, com participações nos filmes “Salário da Morte”, de Linduarte Noronha, e “Menino de Engenho”, de Valter Lima Jr. No rádio, foi uma voz multifacetada, atuando como locutor, diretor-artístico, discotecário, controlista, redator e anunciador — primeiro na Rádio Clube da Parahyba e, depois, na Rádio Tabajara, onde dirigiu e participou de radionovelas e programas ao vivo denominado “Vovô Conta uma História’ , onde os ouvintes escreviam suas as suas histórias e Cilaio a narrava de forma cômica.
Seu legado ganhou um palco concreto em 1987. Com a interdição do Teatro Santa Rosa para reforma, seu então diretor, o professor e teatrólogo Elpídio Navarro, propôs a conversão do auditório do Grupo Escolar Tomás Mindelo em um novo espaço cênico. Foi Navarro quem idealizou a justa homenagem, batizando-o com o nome Cilaio Ribeiro, um tributo a essa personalidade fundamental e, paradoxalmente, pouco divulgada da história cultural paraibana.

Mural externo no Teatro Cilaio Ribeiro
Assim nasceu, em Dezembro de 1987, o teatro amador, Cilaio Ribeiro, que cumpriria um papel histórico ao se tornar um marco da cena cultural alternativa pessoense. Durante a década de 1990, o espaço foi vital para diversos movimentos sociais, abrigando e fomentando desde as cenas punk e anarcopunk até o Movimento Negro da Paraíba (MNPB) e, de forma pioneira, o Movimento Espírito Lilás (MEL), um dos primeiros coletivos de defesa dos direitos LGBT no estado. Dessa forma, o teatro consolidou-se como um dos principais símbolos da cultura marginal e da arte de resistência em João Pessoa, perpetuando, em sua própria essência, o espírito plural e inquieto de Cilaio.
(Fonte “Anarquia Punk na Terra do Sol”: O Movimento Punk na Paraíba da Redemocratização (1988-1998) Luíza Paiva Duarte de Andrade Carneiro João Pessoa – PB 2024. Documentário VIDA E ARTE CILAIO RIBEIRO Ingrid Silveira – veja no youtube https://www.youtube.com/watch?v=sKNxRC_sE9U
#Jerdivan Nóbrega é escritor, historiador e pesquisador
