Por João Costa
De qualquer trabalho de interpretação de um ator/atriz o que se espera é sensibilidade, espertise técnica, espontaneidade e é exatamente o que a atriz Fabíola Ataíde, dirigida pelo professor e teatrólogo Everaldo Vasconcelos, entrega ao público com o monólogo “Agreste”, dramaturgia de Newton Moreno.
A atriz leva ao palco o rigor do academicismo no exercício da interpretação ao viver um drama ambientado na região Nordeste, de uma jovem que perde a sua amada, atrai para si ódio e ressentimento social, próprios do Brasil arcaico que se espraia pelo Brasil moderno, por sua relação só descoberta após morte da companheira.
Diretor Everaldo Vasconcelos(C) evidencia rigor acadêmico
Fabíola não economiza ao lançar mão dos seus recursos interpretativos, pois são vários: ela canta, vivencia múltiplos personagens, exorcizando demônios morais desse Brasil moderno e arcaico, bem colocados pelo autor, Newton Moreno.
Um solo interpretativo virtuoso o suficiente para prender a atenção, causar silêncios e risos na plateia que lotou o teatro Ednaldo do Egito, numa noite em que, longe da li, mas muito longe mesmo, em Brasília, se ensaiava um golpe de estado, felizmente fracassado.
Ataíde vivencia a profunda emoção do amor inocente, amor em estado puro, trágico; toques de humor e graça num palco despojado, em que apenas um chapéu de palha e algumas rochas pequenas amparam a intérprete.
Ela transmite para a plateia dando caminhos para a visualização do morto, da cerca, dos efeitos climáticos do Agreste, uma “natureza perversa”, não mais que o mundo social a rejeitar esse amor sáfico
A direção de Everaldo Vasconcelos deixa na porta do teatro os modismos cênicos para colocar no palco o teatro da palavra, do corpo, do canto e do rigor interpretativo na voz, gestos, trejeitos da nordestinade, que Fabíola vivencia e encanta.
Sem abrir mão do rigor daquilo que se aprende na academia.
A atriz é mestranda em Artes da Cena pela faculdade de Teatro Célia Helena, São Paulo.
Por fim e não por último, um êxito acadêmico, teatral.
Os desdobramentos ficam por conta de festivais e temporadas gratuitas.
Fotografia: studiofabiosoares.com