Mossoró vai sediar, de 09 a 13 de Junho, o evento Cariri Cangaço. Simultaneamente, a cidade festeja Santo Antônio e a exitosa resistência da cidade ao ataque do bando de Lampião, em 1927. Vale a pena regatar narrativas sobre esse episódio lampiônico.
Reza a lenda que Massilon Leite, supostamente natural da região de Timbaúba dos Mocós(PE), chegou à região do sertão da Paraíba acompanhando os pais ainda na infância; na fase adulta teria sido “almocreve no trecho Mossoró(RN)/Brejo do Cruz/Pombal na Paraíba”; trabalhava em companhia de um irmão(Pinga-Fogo), que também ingressou no cangaço, segundo narrativa do pesquisador do cangaço, José Tavares.
Sertanejo festeiro, bom dançarino de forró, Massilon costumava pagar contas de bar para os amigos e farristas ao redor. Inevitavelmente, uma mulher fatal surgiu pelos caminhos de Massilon no trabalho de almocrevia.
Essa “mulher fatal” era uma ex de um soldado, o que causou uma disputa que levou a um entrevero, provavelmente em Brejo do Cruz, na Paraíba, vilarejo encantado e festejado nas músicas de Zé Ramalho.
Contenda por mulher se resolvia e ainda se resolve à bala.
Até que houve a oportunidade de um tête-à-tête entre Massilon e o militar que evoluiu para um tiroteio em que Massilon levou a melhor e o militar tombou morto.
Com o militar morto, Massilon passou a temer consequências naturais: prisão e até mesmo vingança por parte da família do soldado desventurado, que perdera a vida e a mulher.
Massilon buscou abrigo na fazenda de Joaquim (Quinca) Saldanha, considerado o maior coiteiro de bandoleiros na divisa entre Rio Grande do Norte e Paraíba – o que significava praticamente virar cangaceiro.
O pesquisador Zé Tavares narra que “os bandoleiros procurados na Paraíba se homiziavam em fazenda de Quinca Saldanha no lado do Rio Grande do norte; os procurados por lá eram abrigados em propriedades de Saldanha no lado paraibano”.
Massilon Leite, cangaceiro
Massilon fez “carreira” no cangaço praticando assaltos e crimes de encomenda; arregimentou seu próprio bando. Participou de empreitada com Lampião, mas não integrava o bando dos Irmãos Ferreira.
– Onde Massilon e seu bando atuavam, aí tinha o dedo de Quinca Saldanha, inclusive assaltos a Apody e o fracassado ataque a Mossoró, pontua Zé Tavares.
Já o pesquisador Ivanildo Silveira narra que Quinca Saldanha tinha o apelido de Gato Vermelho, isso porque quando estava fulo da vida ficava vermelhão, tal qual Clementino José Furtado, o Quelé, apelidado por Vigulino Ferreira de “Tamanduá Vermelho”.
Mas voltemos a Massilon.
Coube a ele, Massilon, comandar um dos subgrupos no assalto a Mossoró e liderar o ataque em parceria com Lampião que com o seu bando, antes mesmo de chegar a cidade, espalhava o terror saqueando fazendas e matando quem oferecesse obstáculo.
O ataque a Mossoró, todos sabem, fracassou.
Narram que a poeira ainda não havia assentado, quando um caminhão procedente de Princesa Isabel(PB) estacionou na frente da cadeia pública, onde o cangaceiro Jaraca, ferido, era atendido por um médico numa sela ultra vigiada. Era a volante do sargento Clementino Quelé.
Quelé não perdia tempo, evitou ele mesmo interrogar o cangaceiro – os dois já se conheciam, uma vez Quelé também chefiara bando armado em conluio com Lampião.
Mas ficou na calçada da cadeia ouvindo xingamentos de Jaraca, enquanto um homem de confiança interrogava o cangaceiro. Anos depois, a Câmara Municipal de Mossoró prestaria homenagens ao sargento Quelé, pela rapidez e bravura no combate ao banditismo rural.
Mas de quem foi à responsabilidade pelo fracasso, se o bando fora bem financiado por coronéis; estava bem municiado, preparado e em grande número?
Difícil esclarecer, mas o certo é que o fracasso provocou racha nos grupos.
Na fuga atabalhoada para o Ceará o cisma entre os cangaceiros se acirrou, Massilon e seu pequeno grupo a romperam a associação para o crime com Lampião, passando a barbarizar no sertão cearense, enquanto Virgulino tomava outro rumo.
Por fim e não por último, Massilon fez seu “pé-de-meia” financeiro, assumiu nova identidade e se escafedeu no oco do mundo, migrando para o estado do Maranhão, onde foi assassinado.
A fama desse bandoleiro ainda pode ser conferida em relados orais nos estados da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
Esta crônica cangaceira resultou de acompanhamento de debates de pesquisadores em grupo de WhatsApp.
Fonte: José Tavares, Ivanildo Silveira. Pesquisadores abalizados do Cangaço.
Imagens: Massilon Leite. 2. memorial da Resistência, em Mossoró.
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