Por João Costa
A coluna de hoje é para falar de um clérigo católico: padre Agostinho Justino dos Santos, ex-capelão da Marinha do Brasil e atual do Cariri Cangaço, um sacerdote que recorrentemente se faz presente em eventos culturais e religiosos focados na pujante cultura nordestina e na persistência da fé que os peregrinos devotam aos seus santos.

Padre Agostinho do Santos: fé e resistência da cultura nordestina no Cariri Cangaço
O conheci padre Agostinho recentemente em Piranhas(AL), à beira do rio São Francisco, quando ele conduzia uma cerimônia fúnebre em que se jogava as cinzas do escritor Antônio Amaury (falecido em 26 de fevereiro de 2021) no leito do rio, um desejo manifestado à família pelo escritor, um paulista que dedicou parte de sua vida à pesquisa sobre o cangaço e as coisas do Nordeste; amigo e protetor de ex-cangaceiros, cujo legado vai além da literatura por ele produzida.
Na noite anterior, quando da abertura do Cariri Cangaço, um senhor baixinho, de roupa preta, uma aura mística, identificado rapidamente pela clérgima e um imponente chapéu de cangaceiro, se aproximou e me ofertou uma daquelas fitinhas usadas por romeiros peregrinos que vão ao Juazeiro do Norte.
Estava diante de um padre, fisicamente frágil, de bengala, mas a simples maneira como abordava todos ali, sem palavras, mas apenas distribuindo fitas, revelava a sua grandeza como homem de fé.

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No dia seguinte, logo cedo, quando eu circulava pelo espaço imenso do porto de Piranhas velha com dona Marilene, um carro para ao lado e o motorista me indaga.
– De onde sai à caminhada pelo sítio histórico, rota do cangaço?
Ao me abaixar para falar com o motorista, vi no banco ao lado, de novo, o padre.
Eu não soube informar, pois também estava procurando o ponto de partida da caminhada, mas me veio à mente a célebre frase do pensador e dramaturgo Nelson Rodrigues.
“Deus está nas coincidências”.
Numa rápida pesquisa no Google, fico sabendo que o padre Agostinho mora no Rio de Janeiro, mas recorrentemente é visto em celebrações em igrejas do Crato e do Juazeiro e a partir dessas prelazias, costuma acompanhar visitas aos locais icônicos para a Historiografia do cangaço e da cultura nordestina, realizadas por escritores, pesquisadores, descendentes de volantes, cangaceiros e coiteiros, além de uma legião cada vez maior de estudiosos do cangaço.
Mas o que leva um padre, em pleno século XXI, percorrer e se interessar por lugares onde pessoas foram assassinadas, chacinadas; visitar cidadelas de resistência armada, territórios de combates de extrema violência e selvageria entre cangaceiros e volantes?
Cumprir a missão do Cristo, respondo.
Se a missão do Cristo Jesus foi à Expiação, então o padre Agostinho dos Santos faz a sua parte.
No Talmude, a expiação começava pelo sacerdote e sua casa e é citada poucas vezes no Tanakh; embora os católicos brasileiros tenham abandonado a expiação como rito de fé, conforta encontrar um sacerdote que transmita tal mensagem, mesmo de maneira subliminar ao tempo quão poderosa possa ser a mensagem do catolicismo nordestino.