João Costa
O meu sonho de vida e profissional de conhecer a Grota do Angico data do ano de 1984, ano em que montei um espetáculo chamado Tenente Benigno no Núcleo de Teatro Universitário da UFPB que retratava um momento de abordagem de uma volante a uma família de coiteiros para extrair uma confissão sobre o paradeiro de Virgulino Ferreira Lampião – O Cariri Cangaço, em Piranhas(AL), possibilitou a realização desse sonho dezenas de vezes adiado. Veja vídeos e fotos.

A oportunidade de visitar a Grota do Angico e conhecer de perto o local do combate que pôs fim ao Cangaço
Agregue a realização desse sonho que só se realizou 38 anos depois, à oportunidade de conhecer de perto escritores e pesquisadores do fenômeno cangaço, de me aproximar da comunidade Cariri Cangaço, que só conheci seguindo os rastros do meu conterrâneo José Tavares, um dos conselheiros dessa confraria nordestina.

Aula sobre a exposição das cabeças dos cangaceiros na calçada da prefeitura de Piranhas
Visitando a Grota percebemos o quanto é de dificílimo acesso e a trilha até o leito do riacho, percorrida pelas volantes do tenente João Bezerra, Francisco Ferreira e sargento Aniceto, na noite de 27 de julho de 1938, podemos definir como “trilha da morte” – e foi no que resultou a jornada da polícia alagoana.

Da esquerda para direita: Julierme Wanderley, Manoel Severo, João Costa e João Dantas no exato local em que o cangaceiro Gato foi baleado
O momento marcante e emocionante do Cariri Cangaço, foi a cerimônia que as cinzas do historiador (pioneiro) da saga cangaceira, Antônio Amaury, foi jogada no rio São Francisco numa cerimônia que ficará na história.

Padre Agostino, ex-capelão da Marinha do Brasil, conduziu a cerimônia no rio São Francisco
Não sei a razão, talvez política, ou ressentimento com o seu passado coronelista, violento, paraíso de cangaceiros, coiteiros e volantes, a cidade de Piranhas, principalmente o Centro Histórico é belíssimo, mas sem sinalização indicativa nos casarões – bem preservados – mas sem placas identificativas.

Marileide e Marilene: casarão onde funcionava a delegacia, local onde a cangaceira Inacinha ficou presa

Casa de barro à beira do velha Chico, local de partidas das volantes que eliminaram Lampião e pôs fim ao Cangaço
Percebe-se um esforço hercúleo de alguns setores acadêmicos no sentido de apagar personagens e acontecimentos históricos quando se trata do banditismo rural, suas imbricações com a economia, a política e com o clero.
Graças a uma entidade como o Cariri Cangaço, cujos encontros se realizam em cidades referência do cangaço; do misticismo religioso, do coronelismo e das implacáveis e violentas intrigas familiares, tem sido possível resgatar da memória histórica do Nordeste.
O próximo encontro vai se realizar em Serra Talhada, Pernambuco, em novembro.