A Usina Cultural Energisa, em João Pessoa, vai expor, a partir do próximo dia 2 de maio, obra do artista plástico Chico Pereira.
“Varanda de rede” Painel de cobogós da autoria do artista plástico Chico Pereira, inserida num dos edifícios da Estação Cabo Branco, em João Pessoa – Paraíba, projetada por Oscar Niemeyer será um dos destaques da exposição. A obra, feita a pedido do arquiteto, é uma homenagem ao artesanato nordestino, que tem a Paraíba como principal referência nacional na fabricação dessa tradição.
Muitos conhecem Chico Pereira, professor, escritor, homem dos sete instrumentos da cultura com uma enorme folha de serviços prestados à Paraíba. Muitos sabem que Chico é artista plástico com uma longa trajetória que vem dos anos de 1960, participando ativamente do panorama da arte brasileira, em exposições individuais e coletivas no país e no Exterior.
No entanto poucos sabem que Chico Pereira é autor de obras integradas à arquitetura, que são aqueles murais, painéis e objetos que adornam edifícios, aqui na Paraíba, no caso da Capital uma lei que obriga, pela Prefeitura Municipal, ter obras artísticas nas suas fachadas, a partir de determinados critérios. Lei essa que teve na sua origem como relator do projeto esse artista, convocado pela classe.
“Varanda de rede” painel de cobogós na Estação Ciência
Hoje, o artista revendo sua posição diante dessa obrigatoriedade, não concordaria, alegando que nenhuma lei pode obrigar proprietários de edifícios colocar obras de artes nas fachadas e que isto é uma questão cultural, mesmo para obras públicas, seguindo a tradição do mecenato. Acha que essa iniciativa deveria partir do arquiteto, melhor ainda, do proprietário, conscientes da importância histórica que representa obras de arte adornando e completando a feição do edifício, além da gratificação do público ter o prazer de ver essas artes, contribuindo, também, na formação de uma cidadania consciente da importância de arte espalhando-se na cidade. Segundo o artista essa obrigatoriedade levou proprietários de edifícios colocarem qualquer penduricalho como obra de arte nas fachadas das construções, apenas para cumprir a lei.
Cita sua própria experiência, muito antes dessas obrigatoriedades, a partir do seu primeiro trabalho, em Campina Grande, um grande painel como adorno do antigo restaurante universitário da URNE, hoje UEPB, um convite feito pelo então reitor Edvaldo de Sousa do Ò, que desejava propiciar aos frequentadores do local uma visão artística dos acontecimentos da época e que fosse algo estimulante e decorativo. O painel pintado em 1969, é considerada atualmente uma obra pioneira no gênero no uso do stencil e spray, coisa que só aconteceria nas artes plásticas erudita tempos depois.
Obra em edifício projetado por Oscar Niemeyer
No início dos anos de 1980 conheceu no Rio de Janeiro o arquiteto Cydno da Silveira, desde a época de estudante colaborador e coautor de obras com Oscar Niemeyer, nascendo desse encontro uma parceria que se estende até hoje, começando por um mural feito com ladrilho hidráulico, conhecido como mosaico, instalado no Clube do Trabalhador – Sesi, em Campina Grande, por conta da ligação de Cydno com a Federação das Indústrias – Fiep, desde a presidência de Agostinho Veloso da Silveira, quando esse arquiteto projetou a sede do órgão.
Estabeleceu-se a partir daí um entendimento profissional entre o arquiteto e o artista campinense, que levaria, além de outros projetos artísticos, uma intensa atividade de serviços entre o escritório de Cydno da Silveira no, Rio de Janeiro e o escritório de Niemeyer com a Paraíba, que entre vários projetos dois vieram concretizar-se: o conjunto da Estação Cabo Branco, Ciência, Cultura e Artes, em João Pessoa, e o Projeto do Museu de Cultura Popular – MAPP/UEPB (“museu dos três pandeiros”), construído às margens do Açude Velho, em Campina Grande.
Dessa constante parceria, surgiram outros projetos, alguns realizados, a exemplo das obras artísticas do prédio da FIEP/SESI, em João Pessoa, outro projeto de Cydno, convocando mais uma vez Chico Pereira para fazer elementos de arte interativa com a arquitetura, que resultou na instalação de um painel confeccionado com peças de concreto na fachada, outro com finalidade acústica no auditório, e um solução visual para correção de uma irregularidade existente no corredor de ligação entre a garagem e o hall do auditório, cuja solução foi a colocação de peças de concreto numa das paredes, que além de ser um elemento artístico criou um efeito óptico instigante para quem circula no local.
Desse intensivo intercâmbio surgiu a oportunidade para o artista colocar uma obra de sua autoria num edifício projetado por Oscar Niemeyer. Era uma ideia que já vinha lá de trás quando levado por Cydno a uma visita ao escritório do mestre, no Rio de Janeiro, apresentou ao próprio seus esquemas construtivos, projetos e rascunhos de trabalhos seus, que poderiam ser incluídos na arquitetura do futuro Centro Administrativo da cidade de Campina Grande, por ele projetado, onde a ideia era aplicar cobogós na grande fachada do edifício principal, um grande painel com alegorias de rendas de bilro, que além de obra de arte seria um amortecedor da intensa luminosidade vinda do poente, direção dessa fachada.
O referido centro administrativo não saiu do papel. Mas a ideia ficou latente e veio ser lembrado pelo arquiteto quando do projeto da Estação Cabo Branco, que tinha uma fachada de um dos seus prédios voltada para o poente, necessitando de uma solução para amortecer a luminosidade. Foi a oportunidade para voltar ao assunto dos cobogós, que ele não tinha esquecido. Através de Cydno voltou à cena o antigo projeto para encontrar uma forma para sua construção. Surgiu a ideia da varanda de rede, por ser um elemento consagrado na cultura nordestina, quando a Paraíba é reconhecida como um dos maiores centros de produção dessa tradição.
Utilizando o mesmo padrão geométrico para construir seus painéis – quadrados, arcos de circunferências e diagonais – o artista desenvolveu a ideia e desenhou as formas para execução dos cobogós para apreciação de Niemeyer, que aprovando autorizou a confecção da obra, que veio ser posta no local, integrando-se ao conjunto da produção muralística de Chico Pereira.
Essa faceta, praticamente desconhecida do público, poderá ter imagens e históricos de cada uma dessas obras, a partir do próximo dia 2 de maio, na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa, numa exposição sob a curadoria de Dyógenes Chaves, oportunidade que dá início às comemorações dos 80 anos do artista.
Um registro importante como esse só poderia ser encontrado aqui. Esse talento do Dr. Chico Pereira eu desconhecia. Com muito prazer eu não vou deixar de admirar sua obra. Vou marcar presença sim.