Criado pelo escritor, poeta e dramaturgo paraibano, Ariano Suassuna, o Movimento Armorial obteve desdobramentos na música, teatro, literatura. Entretanto sua expressão de maior destaque arquitetônica, é o Castelo Armorial, em São José do Belmonte , distante 474 KM do Recife, na divisa com o município de Santa Inês(PB). Na verdade, uma casa transformada em castelo.
No topo das torres, referências ao islamismo e às cruzadas, presentes da cultura ibérica
São José do Belmonte é referência nas obras de Ariano Suassuna e José Lins do Rego, porque é lá que se situa a Pedra do Reino – motivo de argumento para romances e peças de teatro.
O palácio armorial tem mais de 15 metros de altura. Ele é reaberto ao público sempre na última semana de maio, período em que a cidade organiza sua cavalhada, também, inspirada por Ariano.
Anjo da guarda do Palácio Armorial: arranjos de vaqueiro
A elaboração do projeto teve início no ano de 2002. Já o prédio foi construído entre os anos de 2007 e 2017 pelo empresário Clécio Novaes.
“Em uma de nossas conversas, Ariano me disse que já tinha visto tudo sobre o movimento armorial, menos uma arquitetura. Foi a partir daí que surgiu a ideia de criar o projeto do castelo. Quando eu disse a ele que iria construir ele não acreditou”, relata o comerciante.
Quem entra fica impressionado com tamanha delicadeza e riqueza de detalhes. Cada centímetro do lugar tem uma história para contar. Tudo foi milimetricamente pensado e fundamentado na literatura. Assim como o movimento, a união entre o medieval, barroco, a cultura popular e o erudito são fortes em cada canto do castelo.
O palacete tem várias peças feitas regionais feitas em barro. Elas foram confeccionadas pelos artesãos de Tracunhaém.
“Tivemos um trabalho imenso para deslocar cada obra de arte. Elas evidenciam os personagens que ilustraram a obra ‘A Pedra do Reino e o príncipe do Vai e volta’, de Ariano”, relata, Clécio Novaes.
Pedra do Reino e Sebastianismo
Pedra do Reino na Serra do Catolé em São José do Belmonte(PE). Na virada do século XIX para o sec. XX, abrigou um Quilombo onde ocorreram os trágicos e sangrentos acontecimentos da “Pedra Bonita”. Fanáticos professavam a volta de Dom Sebastião, acreditavam num reino encantado. A pedra foi lavada com sangue de crianças e adultos sacrificados. Uma força policial de Serra Talhada acabou com o movimento.
Lumiara talhada em pedra: totem de destaque no grande círculo da Pedra do Reino
A Pedra do Reino, vê-la ao longe, cruzar todo pátio onde estão as lumiaras, e mesmo passar por entre as duas torres; sendo conhecedor das suas implicações culturais e religiosas provocam emoções por conta da energia do lugar.
O lajedo faz uma interface com as lumiaras religiosas criadas e colocadas no local por Ariano Suassuna, quando secretário de Cultural de Pernambuco. 16 totens, esculturas – personagens sebastianistas – colocadas em círculo, algo como representando o sagrado e o profano.
São muitos os relatos de mortes voluntárias. Os rituais envolviam o consumo de bebidas que estimulavam os fiéis ao suicídio e ao sacrifício dos próprios filhos. Elas se jogavam do alto da Pedra, ou eram imoladas a golpes de facão; seus corpos largados no lajedo ao redor, dando o sentido de “lavar o altar com sangue”.
Pedra do Reino, em São José do Belmonte, fica bem na divisa entre Pernambuco e Paraíba
Crianças foram também sacrificadas. Cinquenta e três pessoas foram sacrificadas nos três dias da matança, incluindo a mulher do “rei”, a rainha Izabel.
O delírio místico do autointitulado rei João Antônio Ferreira teve seu ápice quando ele proclamou que a Pedra só se desencantaria quando lavada por sangue. Os sacrificados ressuscitariam poderosos e imortais.
Lampião nos arredores
A Serra do Catolé também foi palco de lutas entre cangaceiros e volantes. Baleado no pé, Lampião ficou nas cercanias da Pedra do Reino onde foi tratado pelo cangaceiro Cícero Costa, espécie de enfermeiro do bando, que foi morto pela volante do Clementino Quelé nas imediações durante a perseguição ao bando. A Pedra Bonita ou do Reino virou tema de romances de Zé Lins do Rego e Ariano Suassuna, mas o principal deles é Reino Encantado – Crônicas Sebastianistas, de Tristão de Alencar Araripe Júnior.
A seguir, vídeo feito por Edvandro Serafim, do grupo História do Cangaço, com Clécio Novaes.