Por José Tavares

“O Desertor de Princesa” é uma peça teatral que se passa no sertão paraibano em 1930, durante a Revolta de Princesa, um conflito entre o governo estadual e fazendeiros locais.

A trama gira em torno de Antônio, um jovem enjeitado criado por Nestor e sua família, que se alista no Batalhão Provisório do governo para lutar contra os revoltosos.

A peça começa com o Cego, um violeiro cego, cantando sobre a morte e a tristeza do sertão. Logo em seguida, Antônio surge, fugindo do Batalhão após desertar. Ele busca refúgio na casa de Nestor, onde é acolhido por Maria, a filha de Nestor, que nutre sentimentos por ele.

No entanto, a paz é interrompida pela chegada do Capitão Souza, um oficial da polícia cruel e ambicioso, que está à procura de desertores e quer recrutar mais soldados para o Batalhão.

O Capitão Souza revela que Amaro, o filho de Nestor e irmão de Maria, morreu em combate.

A partir daí, a peça explora as tensões e conflitos entre os personagens: Nestor, amargurado pela morte do filho, culpa Antônio pela tragédia e se mostra disposto a entregá-lo à polícia; Maria, dividida entre o amor a Antônio e a lealdade à família, tenta protegê-lo; e o Capitão Souza, que manipula a situação para atingir seus próprios objetivos.

Em meio a esse cenário, Antônio revela a Maria os horrores que presenciou na guerra, as atrocidades cometidas pela polícia e sua própria participação na morte de um prisioneiro. Ele se sente culpado e desiludido com a revolução, e busca redenção em Maria.

No clímax da peça, Nestor entrega Antônio ao Capitão Souza, mas Maria, desesperada, decide fugir com ele. No entanto, Antônio se recusa a fugir com Maria, pois não quer que ela carregue o peso de sua culpa. Ele revela que foi ele quem matou Amaro, a história da morte do soldado do batalhão foi inventada para encobrir o crime, e então incita Maria a entregá-lo ao Capitão como vingança. Maria, tomada pela dor e pela raiva, apunhala-se e cai morta.

A peça termina com o Cego cantando sobre a morte e a escuridão que pairam sobre o sertão, simbolizando a tragédia e a desilusão que marcam a vida dos personagens.

Temas Principais:

*   A guerra e a violência: A peça retrata os horrores da guerra e a brutalidade da polícia, que matam e torturam em nome do governo.

*   A culpa e a redenção: Antônio é atormentado pela culpa por seus atos na guerra e busca redenção em Maria.

*   O amor e a morte: O amor entre Antônio e Maria é marcado pela tragédia e pela morte, que os impede de encontrar a felicidade.

*   A vingança e o perdão: A peça explora a busca por vingança e a dificuldade de perdoar, tanto por parte de Antônio quanto de Nestor.

*   A identidade e o pertencimento: Antônio, como enjeitado, busca um lugar no mundo e uma identidade própria, mas se sente sempre marginalizado e excluído.

*   As relações sociais e políticas no sertão: A peça retrata as relações de poder no sertão, marcadas pela violência, pela opressão e pela exploração.

 

Linguagem e Estilo de Ariano

 

Ariano Suassuna utiliza uma linguagem rica e expressiva, com elementos da cultura popular nordestina, como a música, a dança e os contos populares. O autor mistura o trágico e o cômico, o real e o fantástico, criando uma atmosfera tensa e envolvente.

José Tavares de Araújo é pesquisador e historiador do cangaço. Recentemente lançou livro sobre a Revolta de Princesa

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