Por José Tavares de Araújo Neto

No amanhecer do 15 de novembro de 1889, um arrepio percorreu as ruas do Rio de Janeiro. O marechal Deodoro da Fonseca, até então monarquista convicto, viu-se impulsionado a liderar um movimento que nenhum dos protagonistas imaginava ser tão rápido e decisivo.

O que poucos sabem é que não foi o desejo pela mudança que moveu Deodoro — foi uma fake news, essa “notícia falsa” em forma de boato cruel, que lhe contou que ele sofreria prisão por suas ações contra o governo imperial. Foi essa mentira, espalhada nos bastidores políticos e militares, que incendiou a chama da rebelião.

Deodoro, acuado e convencido de que o muro da monarquia estava caindo sobre sua cabeça, tomou as rédeas do golpe, mesmo contra seus próprios desejos iniciais.

Assim, o Brasil mudou sua fisionomia política não apenas por ideais puros, mas pela força de uma falsidade que mudou rumos e destinos.O velho imperador Dom Pedro II, que tantas vezes fora chamado de “pater patriae”, acordou naquela manhã para ver seu reino desmoronar sem batalha ou sangue derramado nas ruas.

O país deslizou silenciosamente de uma monarquia que se dizia estável para uma república nascida do embuste, da suspeita e do cálculo político frio. Essa história das fake news não apenas mostra como a propagação da mentira pode impactar decisões de enorme alcance, mas também lembra que na política, mesmo naquele século XIX, as narrativas eram armas tão poderosas quanto os canhões.

E assim, numa madrugada marcada por incertezas, o Brasil levantou-se republicano, em um golpe onde a verdade foi a primeira vítima.

# José Tavares é pesquisador do cangaço.

Imagem Wikipédia

 

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