Datas servem para assinalar fatos históricos; nas nossas vidas são como uma ampulheta do tempo, mas se comportando como uma bússola que aponta sempre para o rumo Norte d a velhice, profissionalmente se traduz pelo clichê de aposentadoria. E este 11 de setembro de 2023 fica marcado como o dia em que Massilon Gonzaga, radialista, compositor e músico assumiu sua aposentadoria no rádio paraibano.
Massilon percorreu uma longa estrada no rádio, uma exitosa carreia.
Sua aurora como locutor começou lá nos anos 60, início dos anos 1970, em Pombal, na Voz da Cidade, que depois virou Lord Amplificador. Ainda jovem adolescente, sua voz inconfundível pontificava a programação da difusora do Clemildo Brunet.
Uma voz que dobrou o século no rádio paraibano.
Não é cabotinismo meu, mas sou feliz por ter iniciado também na radiofonia ao lado de Massilon, que se tornaria um ícone do rádio, em Campina Grande; e ao lado de outra fera: Otacílio Trajano .
No início dos anos de chumbo de 1970 eu tomei rumo para bem distante de Pombal, Otacílio migrou para Cajazeiras, enquanto Massilon desembarcava em Campina Grande para fazer carreira no rádio e também na Academia pois tornou-se professor da UEPB e, consequentemente, mentor de muitas gerações de jovens que optaram pela Comunicação como régua e compasso para a vida.
Não bastava ser locutor, tinha de se tornar professor de Rádio!
João Costa, Massilon(C) e Otacílio Trajano
Mas eu comecei falando de 11 de setembro. Dois foram trágicos:
O 11 de setembro de 1972, ano de terror e sangue para o povo do Chile, porque nessa data, militares daquele país, sob o comando dos EUA, bombardearam o Palácio do governo, mataram o presidente Salvador Allende, implantaram no Chile a mais cruel das ditaduras.
Já o 11 de setembro de 2001, que haveria de se tornar um marco divisor da geopolítica, assinalou o dia em que os EUA deixaram de ser caçador para virar caça. Seus símbolos foram ao chão, literalmente.
Mas o 11 de setembro de 2023, para o rádio paraibano, marca o coroamento da carreira exitosa de Massilon Gonzaga.
Tenho motivos também para festejar, pois estava lá, na aurora de Massilon no rádio.
Quando surgiu o cinema, disseram que seria o fim do rádio; quando veio a televisão, decretaram a morte do rádio; nada disso aconteceu. O rádio segue dando régua e compasso na comunicação, pois até o jornal impresso desapareceu.
Agora afloram novas mídias e o rádio e suas personagens continuam pontuando, ou melhor: pautando a vida.
O rádio resistirá por mais um século, talvez mais.
Massilon foi às redes sociais comunicar sua aposentadoria no rádio, avisou que agora vai cuidar do sítio em Galante, “criar galinhas”, continuar seu chamego com a sanfona, que a partir de agora, definitivamente substituirá o microfone.
Massilon, João Costa e Otacílio, uma imagem feita na Festa do Rosário de 1970
Veja o que ele disse:
É HORA DE PARAR
São 71 anos de idade, 55 de profissão como locutor radiofônico. Mais de meio século.
Poucos tiveram esse privilégio, passando pelos mais variados setores dessa maravilhosa profissão: O Rádio, o meu querido rádio.
– A minha vida.
Encerro o meu ciclo, lúcido, orgulhoso e de bem com todos. Não deixo nenhum inimigo. Amei, fui amado e agora vou cuidar da minha velhice, sem traumas, porque tenho consciência do que fiz. Poderia continuar, mas pretendo escrever livros, fazer poesias e voltar a tocar a minha sanfona Leticce.
É hora de parar, mas estarei sempre por perto para entrevistas, palestras e algumas participações especiais. Pois como disse, não tenho traumas, só alegria pelo que fiz na minha carreira profissional. Vou dar entrada na minha aposentadoria, junto a Universidade Estadual da Paraíba, onde sou professor especialista em rádio do curso de Comunicação Social, aí então vou me mudar pra Galante e criar um cachorro vira latas que terá o nome de Ringo.
Pra vocês um grande beijo. Estarei sempre o por perto. E se um dia quiserem conversar besteiras, estarei no “Pé da Cajarana”.
Irreverente, abusado e chato como sempre fui.
Obrigado meus amigos
Verdadeiros, incomuns
No ápice dessa emoção
Tento chegar a alguns
Para todos mando abraços
E o coração parto em pedaços
E dou um “taco” a cada um
Campina Grande, 11 de setembro de 2023.
Massilon Gonzaga de Luna.