O blog reproduz a seguir, artigo crítico do professor Everaldo Vasconcelos para o site A Cena Tabajara sobre a última oficina teatral realizada no teatro Lima Penante ( Núcleo de teatro da UFPB), entre novembro e dezembro de 2024. As imagens são de Nalva Figueiredo. leia a abordagem crítica a seguir.

OFICINA DE TEATRO NO LIMA PENANTE

O grupo de teatro MOCA – Movimento de Cultura Artística, sob a direção de João Batista e Maria Betânia, e o Grupo de teatro Tem Boquinha Não, sob o comando de Omar Brito, uniram-se para promover um curso de teatro nas dependências do Núcleo de Teatro Universitário, que lhes deu total apoio.

A ideia da oficina era oferecer aos participantes, de forma gratuita, o conhecimento de nomes da dramaturgia paraibana, conectando-os a uma linhagem, como se fosse uma iniciação. Não apenas do ponto de vista técnico e artístico, mas principalmente histórico e cultural; a proposta visava conectar as pessoas aos fazedores de teatro. Nesse aspecto, esta oficina é original, pois, geralmente, a preocupação de outras está em oferecer conhecimentos técnicos da arte teatral sem priorizar a conexão com o seu lugar de origem.

Para isso, os dois grupos convidaram mais dois diretores ativos do teatro paraibano: Flávio Melo e João Costa. Eles trariam conexões com outras dramaturgias e fazeres importantes. A ideia era que esse grupo de participantes passasse pelas mãos dos cinco diretores, que compartilhariam não somente o conhecimento técnico, mas também suas vivências pessoais.

O curso teve a duração de noventa dias, dividido em duas partes: uma de exercícios preparatórios, realizados semanalmente por cada um dos diretores, que apresentaram seus modos de compreender a arte do ator; e outra de montagens, usando textos de dramaturgos paraibanos conhecidos, além de uma convidada. Esses autores foram Lourdes Ramalho, Tarcísio Pereira, João Costa, Ednaldo do Egypto, Fernando Teixeira e Gigliola Melo.

 

O espetáculo foi apresentado nos dias 18 e 19  de dezembro de 2024 no Teatro Lima Penante para um público pagante que foi prestigiar o evento. Ressalto isso porque, geralmente, essas apresentações são oferecidas de forma gratuita. Nesse caso, fiel ao aspecto educativo da proposta, cobraram entradas para custear as despesas e, principalmente, educar o público sobre a importância de contribuir financeiramente com o teatro por meio da compra de ingressos. O costume de que o teatro deve ser sempre gratuito desvaloriza a atividade teatral. Assim, tivemos um público que fez fila na bilheteria do teatro para prestigiar e apoiar os participantes da oficina de teatro.

O teatro de Omar Brito, Gigliola Melo e João Batista

O espetáculo começou na frente do teatro, com uma apresentação de teatro de rua dirigida por Omar Brito com texto de Gigliola Melo. Após esse momento, os atores e atrizes correram para o camarim para prepararem-se para a cena seguinte, enquanto o público acessava a plateia. O mesmo grupo de atores participou de todos os blocos dirigidos pelos cinco diretores.

Quando as cortinas se abriram, tivemos a segunda parte do bloco dirigido por Omar Brito, mostrando uma cena da dramaturga Lourdes Ramalho. Após essa apresentação, as cortinas se fecharam e subiu ao proscênio o veterano ator e diretor Osvaldo Travassos, que fez uma explanação sobre a cena apresentada, dando informações sobre a dramaturgia e a direção, e trazendo o público para o clima pedagógico do momento.

Que Fazer? Chamar a Polícia

As luzes se apagaram, e as cortinas se abriram para o bloco seguinte, dirigido por João Batista e Maria Betânia, com uma cena de Os Novos Ricos, texto de Ednaldo do Egypto, e outra de O Que Vai Fazer? Chamar a Polícia?, de Fernando Teixeira.

O teatro tenso e complexo de João Costa

O terceiro bloco foi dirigido pelo experiente diretor, ator e dramaturgo João Costa, que fez uma seleção de várias obras de sua autoria. Foi emocionante ver os atores e atrizes entregando-se completamente ao prazer teatral de dar vida a personagens densos e complexos, tão característicos de João Costa, um dramaturgo que poderia ser chamado de “Nelson Rodrigues paraibano” pela sua predileção por temas difíceis de abordar à luz do dia. João também é um excelente diretor, que conseguiu do elenco um mergulho profundo nas cenas apresentadas. A plateia prendeu a respiração diante da força das cenas dos textos:  Nubia; Orquídeas vermelhas; Caterine; Xandu e Quelé; Meus comprimidos, por favor, de sua autoria, e Salomé de Oscar Wilde. Após o fechamento das cortinas, Osvaldo Travassos novamente trouxe o viés pedagógico ao evento contextualizando para a plateia as cenas apresentadas.

Flávio Melo na fonte de Antunes Filho

No quarto bloco, tivemos as cenas dirigidas por Flávio Melo, um diretor experiente que bebeu na fonte de Antunes Filho e possui um estilo envolvente e sedutor de conduzir o elenco. O público percebia o entusiasmo que ele despertava nos atores e atrizes. Neste bloco eles apresentaram cenas de dois textos do dramaturgo Tarcísio Pereira.

Dessa experiência inédita de ter um mesmo grupo transitando pelas mãos de cinco diretores, cada qual trazendo sua vivência pessoal com o teatro paraibano e o conhecimento de dramaturgias locais, resultou em um espetáculo único. No debate que se seguiu, foi valorizada a importância de se prestigiar as produções locais, reforçando a ideia de que “é da aldeia que se vai ao universal”, e não o contrário.

No elenco: Thamara Duarte;  Mary Santhos; Rosa Carvalho; Paula Zimbrunes; Karine Cruz; Aldenor; Val Virgulino;  Nathysson Montenelli; Thais; Nayara Travassos; Arthur Alves Pequeno da Silva; Pericles Mozart.

 

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