José Tavares de Araújo Neto
Anayde da Costa Beiriz (1905–1930) foi uma professora, escritora e figura controversa da Paraíba, cuja vida se entrelaçou com um dos episódios mais dramáticos da história política brasileira: o assassinato de João Pessoa em 1930. Conhecida por sua inteligência, beleza e personalidade dócil, Anayde desafiava os padrões da época, envolvendo-se em relacionamentos intensos e na cena cultural paraibana.
Sua ligação com o advogado João Duarte Dantas — autor do crime contra o presidente da Paraíba — transformou-a em alvo de perseguição moral e política. Após a morte de Dantas, Anayde, isolada e desesperada, suicidou-se em Recife, deixando cartas que revelavam sua dor e lealdade ao amante.
Apesar dos rumores, suas correspondências íntimas com João Dantas nunca vieram a público, desmentindo narrativas que a culpavam pelo escândalo. Este resumo reconstrói sua trajetória, separando a mulher real das lendas que a cercam.
Origem do Sobrenome
O sobrenome Costa Beiriz tem origem em José Rodrigues da Costa, um português de Póvoa de Varzim que migrou para o Brasil após o terremoto de 1755. Ele se estabeleceu na Paraíba, fundando Guarabira. “Beiriz” é uma corruptela de “Roriz”, abreviação de Rodrigues.
Família e Nascimento
Anayde nasceu em 20 de fevereiro de 1905, em João Pessoa (então Parahyba), filha de José da Costa Beiriz (tipógrafo do jornal A União) e Maria Augusta de Azevedo. Tinha três irmãos: Helena, Maria José (Lezita), Antônio e Maria da Penha.
Majoração da Idade
Seu registro de nascimento foi falsificado em 1917, alterando sua data para 18 de fevereiro de 1903, para que pudesse ingressar na Escola Normal aos 12 anos, já que a idade mínima era 14.
Vida Acadêmica e Profissional
Formou-se na Escola Normal em 1921, aos 16 anos, e tornou-se professora na colônia de pescadores de Cabedelo, onde também atuou como secretária voluntária da Associação dos Pescadores.
Concurso de Beleza e Carreira Literária
Em 1925, venceu um concurso de beleza promovido pelo Correio da Manhã, jornal pertencente a Joca Carneiro (pai dos futuros políticos pombalenses Ruy e Janduhy Carneiro) ganhando o apelido de “A Pantera dos Olhos Dormentes”. Era escritora, publicando contos e poemas em jornais como o Jornal do Recife, e declamadora talentosa.
Relacionamentos
Heriberto Paiva: Namorou o estudante de medicina, mas a família dele forçou o rompimento. Eles mantiveram correspondência até 1927.
João Dantas: Advogado e político, seu relacionamento com Anayde começou em 1928. Tornou-se alvo de perseguição após o assassinato de João Pessoa (26/07/1930), cometido por Dantas como vingança pessoal. Anayde fugiu para Recife, a fim de dar assistência ao namorado preso.
A Morte de João Dantas e a Perseguição a Anayde
Após o crime, João Dantas foi preso e assassinado na prisão em 6 de outubro de 1930, durante a Revolução de 1930. Anayde foi rejeitada por parentes que a hospedavam em Recife.
Suicídio e Cartas de Despedida
Em 22 de outubro de 1930, Anayde ingeriu oxicianureto de mercúrio no Asilo Bom Pastor. Deixou cartas:
-À mãe: Pedia perdão e defendia a honra de João Dantas.
À irmã Lezita: Distribuiu seus pertences.
Declaração à polícia: Assumiu o suicídio, sem revelar motivos.
As Cartas Íntimas que Nunca Foram Publicadas.
Ao contrário do que se difundiu, as correspondências trocadas entre Anayde e João Dantas jamais foram publicadas. Apesar da apreensão de documentos após o assassinato de João Pessoa, apenas cartas políticas de Dantas foram divulgadas. Nenhuma menção a Anayde foi feita na imprensa da época.
Legado
Anayde Beiriz tornou-se símbolo de resistência e paixão, uma mulher à frente de seu tempo, cuja história foi distorcida por narrativas políticas e morais da época. Sua vida e morte continuam a inspirar debates sobre gênero, política e justiça no Brasil.
José Tavares é escritor e pesquisador do cangaço
Imagem ilustrativa: Google