O blog publica a seguir textos dramatúrgicos na modalidade de monólogo; baseados na vida cotidiana de autoria do Professor Marcos Pimentel Pequeno, professor da UFPB com formação em Filosofia. Ele é autor de peças infantis e de costumes, a exemplo de “Intimidades Domésticas”; atua no teatro paraibano há 40 anos e atualmente lidera encenações no Centro de Ciências Agrárias (CCA), em Areia.
Botafoguense virando flamenguista?
Marcos Pequeno
Já vi muitas coisas nessas vidas
De escolhas descartáveis às preferidas
Mas o que espanta a vista
É ver pela primeira vez
E ter que escrever na lista
Botafoguense virando flamenguista
Já vi muitas coisas nessas vidas
Destaco as mais curtidas
Já vi vento virar tempestade, violência caridade, prostituta esposa fiel, ladrão pastor, bolsonarista petista e petista bolsonarista.
Já vi pedófilo virar padre, cearense paulista, mulher desiludida virar freira, maconheiro coronel, militar rebelde presidente e metalúrgico virar mito.
Já vi policial virar bandido e vice-versa, mulher feia virar miss, meliante advogado, padre comunista, bailarino juiz, peão patrão, humorista virar deputado, pesquisador negacionista, banguelo galã, gordo virar maratonista, magro rei momo, bunda gorda virar almofada e barrigão atabaque.
Já vi alfinete virar palito de dente, tesoura alicate, parafuso prego e penico virar bacia. Bicicleta ergomêtrica virar cabide de roupas, bunda de tanajura iguaria, ateu virar santo, aluno turista professor, mudo vocalista, cego retratista, obeso nutricionista.
Vi professor virar gerente de loja, batedor de carne virar martelo, balde de água fria despertador, palito de fósforo virar palito de dente e cotonete, meia velha coador de café, camisa toalha de banho, garrafa de Coca-Cola virar coletor de urina, tampa de panela tamborim, cuspe virar lubrificante íntimo e este pasta de dente, jornal virar papel higiênico e este guardanapo.
Vi bar de cachaceiro virar templo religioso, marinete virar lotação e este ônibus coletivo. Já vi, falar: “pegar uma nega hoje” virar caso de polícia.
Já vi cabra frouxo virar valente, meia velha bola de futebol, dentadura virar dente implantado, catinga perfume, chinelo palmatória.
Já vi muitas coisas nessas vidas
De escolhas descartáveis às preferidas
Já vi madeira virar fogo na pista
E, agora, botafoguense flamenguista
Mas para orgulho do Flamengo e de sua nação
O contrário ainda não vi não
Marcos P. Pequeno é professor universitário e diretor de teatro