Historiador e pesquisador do fenômeno Cangaço, o escritor José Tavares de Araújo Neto anuncia que está em fase de pré-venda, o livro “A Saga do Sargento Quelé, O Lendário Tamanduá Vermelho”, uma obra que se enquadra no gênero de ensaio histórico-biográfico.
A obra revela uma estrutura focada em três pilares principais: a crítica à metodologia histórica, o resgate da memória do protagonista e a reconstrução detalhada do contexto político-social do Nordeste no início do século XX.
Propósito e Método (Prólogo) – O autor estabelece o propósito do livro no Prólogo, criticando o “Perigo do Comodismo na Pesquisa Histórica”.
Crítica Metodológica: O livro se posiciona contra o historiador que se limita ao “Ctrl+C e Ctrl+V” e à “repetição estéril” de narrativas já existentes. O autor defende que a pesquisa histórica deve ser um exercício de “inquietude”, que exige “enfrentar poeira de arquivos, decifrar letras tortuosas” e ser um “intérprete crítico”. O lema do livro é: “Replicar não é pesquisar. Conferir é tão importante quanto confiar. Interpretar é mais valioso do que repetir”.
O Inconformismo como Motivação: A obra nasce do “inconformismo” do autor ao constatar o túmulo do Sargento Quelé “praticamente abandonado”.
O objetivo é “esclarecer e revelar aspectos inéditos” sobre a trajetória de Clementino José Furtado e fazer com que o livro seja um “clarim” que devolva “voz e dignidade a quem o tempo e a conveniência tentaram silenciar”.
O Protagonista: Sargento Quelé
O personagem central, Clementino José Furtado, é apresentado como uma figura “icônica e, ao mesmo tempo, mais injustamente tratada da história do cangaço”.
Identidade e Lenda: Conhecido como Sargento Quelé, ele foi apelidado de “Tamanduá Vermelho” por Lampião. É lembrado como o “mais ferrenho dos perseguidores do Rei do Cangaço”, imortalizado em versos da música “No Piancó” de Luiz Gonzaga e Zé Marcolino.
O livro se aprofunda no evento que o transformou de agricultor e líder político respeitado em Triunfo (PE) em foragido e, posteriormente, em sargento da força volante da Paraíba. Essa transformação é narrada em função das tensões políticas em Triunfo (1922), onde Quelé se alinhou ao Coronel Dudu Siqueira Campos contra a facção ligada ao Juiz Ulysses Wanderley. A perseguição política, marcada por acusações de homicídio forjadas e violência policial, forçou Quelé a se refugiar.
A Luta Pessoal: Sua obstinada perseguição a Lampião ganhou contornos de vingança pessoal após o cangaceiro matar seu irmão, Pedro Quelé, e incendiar a casa de sua mãe.
Temas e Contexto Histórico – A obra é rica em temas que contextualizam a vida de Quelé no turbulento Nordeste da Primeira República.
Cangaço e Política: O texto estabelece uma conexão direta entre a atuação de Quelé e a política local, descrevendo um cenário onde as autoridades judiciais e policiais (como o Juiz Ulysses Wanderley e o Tenente Aurélio) agiam como chefes de facção, usando o aparato legal para perseguir adversários.
Arbitrariedade e Abuso de Poder: O livro denuncia a manipulação da justiça, como a utilização de uma carta precatória de Princesa (PB) ou a forja de um auto de resistência em Triunfo (PE), para legitimar a violência contra Quelé. A defesa de Quelé, feita pelo advogado João Bartholomeu Bezerra Leite, focou em desmascarar a “coação e violências ilegais e criminosas” da polícia.
Métodos e Rivalidade: Já como sargento da força volante, Quelé destacou-se por sua bravura e métodos de repressão violentos e arbitrários — incluindo intimidação e tortura — semelhantes aos dos próprios cangaceiros. Essa postura, aliada à sua eficácia, o consolidou como uma figura central na repressão ao cangaço na Paraíba.
O livro de José Tavares de Araújo Neto é, portanto, uma tentativa de revisionismo histórico para reabilitar a complexa figura do Sargento Quelé, usando-o como lente para explorar a arbitrariedade do poder político e a brutalidade da vida no sertão durante o auge do cangaço.

Escritor e pesquisador José Tavares
Imagem de Capa: Clementino José Furtado, o sargento Quelé
