De onde vem o poder e a resiliência da cultura nordestina? A pergunta que salta e instiga historiadores e romancistas e poetas, encontra resposta no caldeirão de costumes, influências literárias e tradições da região Nordeste, a partir das tradições judaicas, cristãs e islâmicas que também dominaram a cultura Ibérica e que foram trazidas para o Nordeste do Brasil.

Ilustração: arabismos no Nordeste

Esse mosaico ibérico-nordestino aparece na produção intelectual de Gilberto Freyre entre as décadas de 1920 e 1940, nas obras do escritor paraibano Ariano Suassuna, em livros de cordéis do também paraibano Leandro Gomes de Barros.

Diante de um Brasil hoje conflagrado mais que nunca e em que o pacto federativo se apresenta com muitas rachaduras, a unidade cultural se torna uma impossibilidade, mas tal unidade talvez ainda seja possível no Nordeste.

Sua cultura a partir do mundo rural incorporou e mantém, até hoje raízes além mar. A começar pelas culturas árabes e islâmicas.

Durante as vaquejas essa pujança da cultura árabe se manifesta através do  aboio; um canto de origem árabe, surgido nos campos do deserto na atual região do Oriente Médio por volta do Século XI ou X, A.C. O era um canto de adoração aos Deuses das religiões politeístas”; no Nordeste, é o símbolo máximo nas festas de apartação, de derrubada do bois.

O Nordeste rural e sua gente compartilham  além desse aboio árabe, costumes islâmicos e judaicos, visíveis na indumentária, inclusive de cangaceiros no início do século XX.

Desde o início do século XX e no início deste, o elemento mais representativo e icônico do cangaço é o chapéu, que reúne símbolos judaicos, da monarquia portuguesa em sinais mágicos e místicos.

Ariano: influências ibéricas na sua obra

O chapéu meia-lua de couro, com uma estrela de 6 ou 8 pontas no meio, usados por Virgulino e demais cangaceiros, hoje é o símbolo irrefutável do nordeste brasileiro.

 

A estrela vem do judaísmo e de fontes islâmicas, transferida ao Nordeste por cristãos novos (judeus), assimilada pelo catolicismo e pelo misticismo cristão rural.

Evidente que Virgulino e demais cangaceiros nada sabiam sobre judaísmo, mas dominavam bem rituais, rezas e cantos católicos ibéricos que também dominaram o universo rural e urbano do Nordeste.

 

 

Virgulino(E) e Antônio Rosa, em 1922

Leiam em voz alta e sintam o poder da oração de Virgulino Ferreira e seu bando: Da Pedra Cristalina -“Minha Pedra cristalina, que no fundo do mar foste achada, entre o Cálice e a Hóstia Consagrada. Treme a Terra, mas não treme Nosso Senhor Jesus Cristo no Altar. Assim, tremem os corações dos meus inimigos quando olharem para mim; eu te benzo em cruz e não tu a mim, ente o Sol, a Lua e as estrelas, as três pessoas da Santíssima Trindade. Meu Deus, na travessia, avistei meus inimigos. Meu Deus, que faço com eles?Com a manto da Virgem Maria sou coberto, e, com o sangue do meu Senhor Jesus Cristo, sou valido. Tens vontade de atirar, porém não atiras. Se atirar, água do cano da espingarda correrá: se tiveres vontade de me furar a faca da mão cairá; se me amarrar, os nós desatarão e, se me trancar, as portas se abrirão. Oferecimento: salvo fui, salvo sou, salvo serei com a chave do sacrário eu me fecho. Um Pai Nosso: três Ave marias; três Glória ao Pai, e ofereço às cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

Fonte: Iberismo, Tradição e mestiçagem: a defesa do Nordeste. Revistas USP.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *