Na França, em 1563, por conta de um novo imposto sobre sal que originou revoltas subsequentes de derrotas do povo contra o governo, um jovem chamado Étienne de La Boétie, escreveu o Discurso da Servidão Voluntária; grosso modo, trata da perda do desejo de liberdade, segundo ele, “os homens, enquanto neles houver algo humano, só se deixam subjugar se forem forçados ou enganados”.
Étienne foi premonitório em relação ao Brasil. Segundo noticiário da rede Brasil Atual “quase 200 trabalhadores retornaram a seus locais de origem, após serem resgatados em condições degradantes e análogas à escravidão na colheita da uva em Bento Gonçalves (RS). No total, a força-tarefa encontrou na semana passada, na Serra Gaúcha, 207 pessoas nessas condições, de 18 a 57 anos. Doze não quiseram ir embora, por residir na região ou por desinteresse, segundo informou o Ministério Público do Trabalho (MPT). A situação de trabalho escravo contratado por meio de terceiros para colheita das vinícolas foi denunciada por trabalhadores que conseguiram fugir”.
No Brasil a escravidão ainda existe?
Certamente, e desconfio que bem aos moldes do Discurso de Jovem Etienne.
Recordemos da famosa reforma trabalhista do governo Michel Temer, instaurado após um golpe institucional jurídico-parlamentar que derrubou o governo democraticamente eleito da Dilma Roussef, cuja aprovação foi capaz de enganar centrais sindicais e trabalhadores em geral, em razão de má fé por parte dos dirigentes sindicais e ignorância dos trabalhadores.
O canto da sereia propagado à exaustão pela mídia nativa, afirmava que a reforma trabalhista era uma forma de regularizar as contas públicas, estimular a economia e criar empregos que, para os empresários, a reforma criaria um ambiente competitivo, com a diminuição de encargos trabalhistas, além de dar segurança jurídica ao empregador.
De fato, os benefícios da tal reforma para o patronato ocorreram de forma imediata, já a criação de empregos virou engodo, direitos trabalhistas foram retirados, sem muita ou nenhuma reação dos trabalhadores.
Empregos não foram criados para atender o exército de trabalhadores desocupados no País
Os números, se corretos, mostraram que existem 39 milhões de trabalhadores informais, 13 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e, aqueles contratados após a reforma, tiveram seus direitos limitados ou mesmo suprimidos.
Por exemplo, os dados mais recentes mostram que a população desalentada, ou seja, que desistiu de procurar trabalho, está em 4,2 milhões.
Além disso, os dados mostram que o número de trabalhadores informais está em 39,3 milhões e que há 13,1 milhões de empregados sem carteira assinada. Ou seja, há um amplo contingente de trabalhadores que, mesmo estando empregados, estão contratados com direitos limitados ou mesmo sem direitos.
Ainda fez aumentar o número dos chamados “trabalhadores de aplicativos” que, enganados pela propaganda, que se consideram “empreendedores”, e se irritam quando chamados de “chofer”.O que ocorre no Sul do País e em outras regiões em que trabalhadores são encontrados em situações análogas ao trabalho escravo cai bem no Discurso da Servidão Voluntária.
Imagem registrada de trabalhadores resgatados
Eles, os trabalhadores e seus representantes não podem se considerados vítimas; pelo silêncio, pela inércia na luta, também são culpados.
Tudo que está em curso enseja discursos escravocratas, permanentes no Brasil, racismos regionais, convicções de setores com espirito “vira-lata”.
Voltamos ao século IXX, rumo ao século IIX. Dominado pelo fundamentalismo religioso evangélico, uma sociedade simpatizante do estado policial.
A velha vocação do Brasil para o atraso.
com informações do Brasil Atual, Brasil 247, UOL.