Pesquisar sobre o cangaço é percorrer longas distâncias, montar quebra-cabeças de fatos e suas versões, enveredar por genealogias, mergulhar em inquéritos policiais, alianças políticas regionais, costurar tudo para contar o caso como o caso foi; os irmãos José Tavares e Jerdivan Nóbrega conseguem isso no livro “Ulysses Liberato – Um Cangaceiro a Serviço do Major José Inácio do Barro”.
O escritor Jerdivan Nóbrega é pesquisador sênior sobre escravizados na Paraíba, instalações de comarcas judiciais, origens e ramificações de famílias paraibanas e memorialista. É o responsável pela primeira parte do livro, que trata da aurora da família Liberato de Alencar.
A reputação de José Tavares como pesquisador e historiador do cangaço o antecede.
O essencial de “Ulysses Liberato”, que além de memorialista da família Alencar, é traçar um painel de conectividade entre famílias poderosas e pobres do mundo rural dos sertões da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco; o compadrio rural que vem casado com crime em diversas latitudes, principalmente o cangaço.
Escritor e pesquisador José Tavares
Àqueles que se aventuram em pesquisar o palpitante universo do cangaço, certamente se surpreenderão com o livro dos irmãos José Tavares e Jerdivan Nóbrega, por trazer à baila o protagonismo de Ulysses Liberato (um cangaceiro pouco conhecido) nos conflitos familiares nas regiões do Pajeú pernambucano e Cariri do Ceará.
Não há Cangaço sem o major José Inácio do Barro.
Narrativas sobre a guerra entre as famílias Pereira e Carvalho são muitas e essenciais para compreensão do universo que deu origens a Sinhô Pereira e Virgulino Ferreira da Salva Lampião.
O livro de José Tavares lança luz sobre os bastidores desses conflitos rurais, o papel de Ulysses Liberato; a aurora do cangaço de Sinhô Pereira e Lampião e o protagonismo de Liberato nos ataques e razias desses cangaceiros no interior da Paraíba, notadamente Pombal, Catolé do Rocha.
Tavares é criterioso na pesquisa. Não se deixou seduzir apenas por relatos orais, foi fundo nos arquivos de jornais, despachos governamentais, inquéritos e relatórios policiais.
O livro é mais uma pedra no mosaico da história nordestina com suas imbricações no coronelismo, banditismo rural e aventura humana.
Ulysses Liberato – Um Cangaceiro a Serviço de José Inácio do Barro. José Tavares de Araújo Neto & Jerdivan Nóbrega de Araújo, 241 páginas, editora Ideia.