Princesa Isabel, distante 439 Km de João Pessoa é famosa nacionalmente pelo movimento armado rebelde conhecido como Revolta de Princesa (fevereiro a julho de 1930) e por ter sido reduto de cangaceiros entre os anos 1920/30 e praça de guerra na maioria das circunstâncias históricas.
Durante o período Momesco deste ano, ao lado dos irmãos Dias (Sérgio e Marcos) percorremos os sítios históricos da revolta e do cangaço de Patos de Irerê, que hoje é distrito de São José de Princesa, mas que nos anos de sucessivas conflagrações armadas, pertencia a Princesa Isabel, nos deparamos com um bloco carnavalesco ( muito famoso por lá) Os Caretas.
De longe nada fazia lembrar um bloco de arrasto, que surgisse na rua ou passarela ironicamente entoando a marchinha Viva Zé Pereira ( homônimo do herói do lugar), mas um ataque de um bando de mascarados militarizados brandindo seus chicotes no ar. Nem Frevo, A la Ursa, nem música baiana, nada. Apenas sons de chicotes estalando no ar.
Prédio ao fundo foi cenário para fotos de volantes
E não havia mulheres no bloco!
De repente o bloco parou e se concentrou em frente a uma casa no centro de Princesa, bem ao lado do prédio de uma escola pública, referenciada em fotos por ter sido cenário em que três volantes da Força Pública da Paraíba posaram para uma foto única em que aparecem cabecilhas de volantes como tenente Zé Guedes e o implacável sargento Clementino José Furtado, o Clementino Quelé.
O bloco concentrou e parecia não sair, porque algo mais que Carnaval estava em curso – era um ritual fúnebre em que os carnavalescos mascarados rezaram em voz alta o Pai Nosso.
Os mascarados ergueram um estandarte em homenagem a um folião organizador do bloco c que havia falecido pouco antes do Carnaval e estalando seus chicotes no ar, fazendo tilintar seus chocalhos, “encomendaram” o corpo, rezaram e pularam.
Não sei como Carnaval de 2023 terminou para aqueles foliões – mistos de palhaços, arlequins e soldados. Mas sei que foi uma face desconhecida de uma forma de folia no Sertão paraibano.
A nossa equipe estava num périplo pelos locais icônicos na Rota do Cangaço na divisa entre Paraíba e Pernambuco, um sítio histórico, lugares de memória onde fatos do cangaço lampiônico se confundem com a Revolta de Princesa e com a Revolução de 30.
Fotos e vídeo: Sérgio e Marcos Dias