Se há uma coisa que o Brasil não faz é aprender com a sua história; daí a repetição de quarteladas, tentativas de golpes a partir da caserna a construção de narrativas mentirosas sobre seu próprio povo e seus movimentos libertários, como A Guerra de Canudos (1896/1897). Um país cujo exército tem seus canhões apontados para dentro.

Hoje em Monte Santo Bahia, na praça Monsenhor Berengue, um enorme canhão marca Withworth, que os conselheiristas referiam como  “Matadeira” foi o que restou, uma espécie de símbolo da vergonha e da covardia de uma guerra desproporcional e genocida. O pesquisador  Guilherme Machado, lá esteve , registrou e o blog recorre a essa foto para ilustrar a matéria.

O escritor José Augusto Moita, em menos de 300 páginas do seu livro “Canudos ou Belo Monte”, buscou e conseguiu entregar aos leitores “um novo olhar” sobre o conflito, motivações, fake News da mídia nativa da época, além trazer à luz personagens populares empoderados durante a guerra, verdadeiros heróis nacionais em conflito com o exército do seus próprio país.

A partir de uma relação feita por um certo Edmundo Muniz, e que consta no Livro “Canudos ou Belo Monte”, é possível imaginar o exército do Conselheiro e o papel de cada num na guerra. A lista é um achado para roteiristas de teatro e cinema.

Artilharia do Exército na Guerra de Canudos

Poderosas personagens na guerra de resistência

 

Durante a insurgência homens, mulheres, crianças combatem por uma causa justa e em torno de lideranças forjadas na própria luta.

Antônio Vicente Maciel – O Conselheiro.

Pedro Serafim – Aquele que foi uma espécie de emissário e relações públicas do Arraial de Belo Monte.

João Abade – O alcaide, o administrador de rua e do povo.

João Brandão – Da mesma geração e amigo íntimo de longas datas do Conselheiro.

Antônio Beato, ou Beatinho – Atilado chefe do serviço de informação e substituto eventual na missão de pregar o Evangelho pela ótica dos cristãos sertanejos bombardeados por uma Igreja Católica europeia, também bizarra em rituais em latim.

Leão da Silva – Secretário geral do Conselheiro.

João Félix – O taramela espécie de Carmelengo, chaveiro dos aposentos do Patriarca e Conselheiro.

Timóteo – Sineiro.

Manoel Quadrado – O curandeiro, o paramédico, o único para uma população de 25 mil moradores no Arraial.

Pajeú – Comandante da Guerrilha, estrategista militar.

Antônio Calixto – Comandante da Guarda Católica, milícia com papel de polícia.

Antônio Vila Nova e Horácio Vila Nova – Intendência, responsáveis pelo paiol, encarregados da logística.

Macambira (Pai e filho) – Destacados combatentes.

Quinquim Coiam – Comandante de guerrilha que derrotou as tropas de Pires Ferreira.

Antônio Fogueteiro – Da Comissão de Alistamento de novos combatentes.

Chico Ema – Diretor de espionagem, chefe do serviço secreto do Arraial.

João Grande – Controle de estradas.

Chiquinho – Irmão de João da Mota, líderes de grupos combatentes, controle e vigilância das estradas de Uauá e Corobó.

Joaquim Tranca-Pés – Chefe guerrilheiro de Angicos.

Pedrão – Líder de tropa composta de 30 homens que protegiam as vertentes da Canabrava.

Major Siriema – Estrategista e combatente de destaque.

José Venâncio – Tipo Maquiavélico e desconfiado.

Nicolau Mongaba, Vicentão, Deocleciano de Macedo, Cipriano, João Tetê, Manuel Ciríaco (sobreviveu aos combates), André Gibóia, Senhorinho, José Bispo, Fabrício de Cocorobó, Ciro, Borges, Raimundo Boca-Torta e José Camo, todos destacados combatentes da linha de frente e emboscadas.

Tiago – O espião competente. Aparecia sempre com informações atualizadas sobre a movimentação das tropas do Exército Brasileiro.

Lalau – Lugar-tenente de Pajaú.

Barnabé José de Carvalho – Alfabetizado, tipo europeu, do estado-maior e substituto de Pajeú. Presente na rendição em companhia de Beatinho, em 2 de outubro.

Papel das mulheres na linha de frente

Santinha – Comandante do corpo de resgate dos feridos em combate.

Maria Francisca de Vasconcelos e Marta Figueira – Professoras em tempo de paz, enfermeiras durante a guerra.

Maria Rita – A Virgem da caatinga, sobrinha de Macambira, bela e exímia atiradora.

Josefa – Capturada, não se acovardou diante do general Artur Oscar, foi degolada.

Imagens: Canhão Withworth, “Matadeira” na praça Monsenhor Berengue, em Monte Santo. Autor: Guilherme Machado, historiador.

Artilharia em Canudos, imagem de domínio público

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