*JOÃO DANTAS X JOÃO PESSOA:
A Vingança como Herança Familiar
Por José Tavares
A vingança praticada por João Dantas contra João Pessoa não foi um ato isolado, fruto de um impulso momentâneo, mas sim a manifestação de um traço profundamente arraigado na história de sua família. Os Dantas de Teixeira, como revelam episódios narrados neste livro, carregavam a vindita como uma marca identitária, quase um código de honra transmitido entre gerações. João, ao agir movido por esse sentimento, seguia um padrão já estabelecido por seus antepassados, cujas ações eram guiadas pela lógica da retaliação como forma de preservar o prestígio e a autoridade do clã.
Ao longo do livro que estamos escrevendo, cujo título será João Dantas e a família Dantas da Serra do Teixeira, iremos encontrar relatos que ilustram essa cultura de represália. Em conflitos por terras, disputas políticas ou questões de honra pessoal, os Dantas recorriam sistematicamente à violência como meio de “justiça”. Um episódio emblemático descreve a luta contra os Feitosas, liderados por nada menos que Quintino Feitosa, que em 1914, viria se destacar na Sedição do Juazeiro como um dos mais valentes Cabo de Guerra de Padre Cícero. Esses atos não eram meras explosões de ira, mas estratégias calculadas para remarcar terreno, reafirmar poder e intimidar adversários.
João Dantas(E) reparação violenta contra João Pessoa
Assim, a vingança de João Dantas deve ser compreendida além do indivíduo: ela é um reflexo de uma mentalidade coletiva, enraizada em valores familiares que privilegiavam a reparação violenta de ofensas. Seu gesto, ainda que chocante, não era uma exceção, mas a regra em uma história marcada pelo sangue e pela obstinação dos Dantas de Teixeira. Como demonstra esta obra, a vindita era, para eles, menos um pecado e mais um dever.
José Tavares é escritor e pesquisador da Revolta de Princesa