O blog reproduz a seguir artigo veiculado na Revista Nordeste, de autoria do acadêmico José Octávio de Arruda Melo, que revela um aspecto político na composição dos membros da Academia Paraibana de Letras(APL): a Academia teria se tornado “reduto” do bolsonarimo. O artigo é um desagravo ao jornalista Walter Santos, candidato vencedor em 1º turno, mas derrotado em 2º na última disputa por uma cadeira na APL.
Walter Santos e as perdas da cultura paraibana
Por José Octávio de Arruda Mello*
Ao contrário do pseudo acadêmico que celebrou, pelos jornais, a eleição do inexpressivo João Trindade, para uma das cadeiras da APL, telefonei para Walter Santos a fim de desagravá-lo pelos resultados do pleito de 09 de maio último na mesma Academia Paraibana de Letras. Como é sabido, a maioria pertenceu ao soi-disant cientista político Renato Carneiro.
Para mim, Walter não tem porque lamentar o presumido insucesso daquela consulta. Jornalista de escola e homem público de reconhecidas qualidades, o antigo editor de O Momento não teve contra se os que nele não votaram no segundo turno – o primeiro foi galhardamente vencido por WS – mas uma máquina que transformou o escrutínio da Academia, em solerte competição de política partidária:
De um lado, os seguidores do ex-capitão Jair Bolsonaro que estão procurando controlar a cultura paraibana. E de outro, os que, em sua maioria, refratários à hegemonia do ex-presidente, alinham-se entre os que resistiram à ditadura militar de 64. A partir de antológica manchete do semanário da avenida Princesa Isabel – “Hoje é dia de esquecer 64” – Walter Santos foi sacrificado por conta disso.
Lamentavelmente, a Academia Paraibana de Letras está se transformando em reduto do Bolsonarismo. Bem antes de se internar, o saudoso Carlos Aranha me chamava atenção em conversa na própria APL: “Aqui, poucos como eu e você não afinam com Bolsonaro. A maioria é toda dele”.
Os fatos ofereceram razão a essas colocações. Se a derrota do democrata Francelino Soares, há dois anos, já apontava nessa direção, ex-presidenta da APL não hesitou em, envolta na bandeira nacional, incorporar-se aos que, na porta do Grupamento de Engenharia, pleiteavam o golpe de estado de 08 de janeiro. Outrossim, na eleição de 25 de abril, bolsonarista raiz sugeria, em plena mesa diretora dos trabalhos, a anistia do ex-capitão, cuja censura ao processo eleitoral do país foi publicamente endossada pelo candidato do segundo lugar, a seguir majoritário.
É claro que, como democrata, e por isso mesmo anistiado de 64, pelo Ministério da Justiça, não nego a ninguém o direito de seguir Bolsonaro ou quem quer que seja. Como se disse do fascismo na década de 30, “é uma questão de gosto”. O que não admito é trazer-se o estigma partidário para dentro de instituições estatutariamente proibidas de assim se posicionar.
Dir-se-á que a APL ainda não chegou a esse ponto. É fato, até porque, não bolsonarista, o presidente Ramalho Leite tem-se comportado com isenção e equilíbrio. Ocorre, porém, que, como espécie de Rainha da Inglaterra, Leite tem permitido o crescimento da autoridade da secretária Tania que, de simples funcionária, arvora-se em mentora da instituição. Basta dizer-se que Walter Santos teve a candidatura por ela barrada, sob a alegação de não dispor de livro. Assim, essa inscrição somente se consumou, por interferência do próprio Ramalho.
A questão da autoria de obras pelos postulantes à APL também nos ocorre discutir: Porventura, revista não constitui publicação ajustada às disposições estatutárias da APL? De mais a mais, tanto quanto o entendemos, o fundamental não reside na publicação de livros, dos quais o poeta Caixa D’água dispunha de quinze! –, mas a militância cultural.
Essa sobra a Walter desde a passagem pela editoria de inúmeros órgãos de imprensa e assessoria do então governador Antônio Mariz. Em O Momento de Leta e Lurdinha Moura, Walter Santos deixou sua marca: Na Paraíba nenhum jornal abriu-se tanto à cultura quanto esse.
Para neutralização dessas evidências, o bolsonarismo propagou que, como jornalista, Walter Santos não era escritor. Trata-se de outra falácia até porque dos dez fundadores da Academia – Matias Freire, Celso Mariz, Horácio de Almeida, Veiga Junior, Durval Albuquerque, Hortêncio Ribeiro, Luiz Pinto, Álvaro de Carvalho, Rocha Barreto e Coriolano de Medeiros – apenas Freire, Horácio e Álvaro não eram jornalistas de profissão.
Desta maneira, o jornalismo constitui antecâmara da literatura: Foram poucos os escritores que não principiaram pelo periodismo. Alguns ainda hoje nele se fixam.
A rejeição da candidatura Walter Santos pela APL constituiu equívoco felizmente não partilhado pelos que, verdadeiros jornalistas, se opuseram à ditadura de 1964 – Abelardo Jurema Filho, José Octávio, Roberto Cavalcanti, Ruy Leitão, Ramalho Leite.
A Academia Paraibana de Letras tem cometido deslizes, como na preterição de intérprete da realidade brasileira como Marcos Formiga, por simples compilador de regras gramaticais. Nesse caso, tal e qual ocorrido com Walter Santos, não foi só a APL quem perdeu, mas a cultura paraibana, privando-se desses valores.
Em tempo: o histórico real e contemporâneo de Walter Santos, ex-editor de todos os principais jornais da Paraíba, duas vezes presidente da API – Associação Paraibana de Imprensa tem registro especial por ter sido lançado por Carlos Aranha – o acadêmico da Cadeira em disputa – logo o WS sempre produzindo gestão marcante em favor das letras e das artes.
Ele conduz consigo o pioneirismo e vanguarda de ter implantado o primeiro website do jornalismo no Nordeste a partir da Paraíba com o WSCOM e sua ousadia de lançar e manter há 19 anos a Revista NORDESTE circulando nacionalmente fazendo a leitura do Brasil e do Mundo pela ótica e defesa dos 9 estados são feitos intelectuais relevantes a merecer reconhecimento, além de grande contribuição dado às letras e artes nordestinas, portanto, tudo isso lhe inserem na lista dos grandes contribuidores da nossa Cultura.
A Revista com alto padrão editorial tem despertado mercados internacionais levando-o a debates no Fórum das Américas, em NY, a Portugal onde a publicação dispõe de duas colunas fixas há mais de 5 anos e, ano passado, em novembro, foi com a Folha de São Paulo os dois únicos veículos de comunicação convidados para 6ª Cúpula Global de Mídia na China.
*José Octávio de Arruda Mello é Historiador de ofício, com doutorado pela USP e pós-doutorado pelo IEB/USP. Professor aposentado das UFPB, UNIPÊ e UEPB, como integrante dos IHGP, APL, API e Centro Internacional Celso Furtado; Autor de Nova História da Paraíba – Das Origens aos Tempos Atuais e Faculdade de Direito PB63 – A Última Turma do Populismo, ambos de 2019.
Imagem: Revista Nordeste