Por Jerdivan Nóbrega de Araújo
As Quatro Cruzes dos Cangaceiros no Jatobá da Estrada marcam um capítulo sombrio da história do cangaço na região de Pombal, na Paraíba.
Em 1922, quatro cangaceiros foram executados pela polícia paraibana em circunstâncias que até recentemente permaneciam pouco conhecidas pela historiografia, resgatado no livro “Ulysses Liberato: Um cangaceiro a serviço do Major José Inácio do Barro”, de José Tavares de Araújo Neto & Jerdivan Nóbrega de Araújo – Editora Ideia)
Os quatro homens faziam parte de um grupo de cerca de 60 cangaceiros enviados pelo Major José Inácio do Barro para realizar assaltos em Catolé do Rocha, incluindo o ataque à casa de Waldevino Lobo. Entre os participantes estavam figuras como Senhor Pereira, Ulisses Liberato de Alencar e os irmãos Ferreira – época em que Lampião ainda não era o líder principal do cangaço.
Após intensa perseguição policial, ao bando que invadiu a Fazenda Barros, resultando em mortes e capturas, alguns cangaceiros foram transferidos para a cadeia de Pombal. Dali, quatro deles foram retirados sob o pretexto de serem conduzidos à capital do estado. No caminho, no lugar conhecido como Jatobá da Estrada, a cerca de 20 km de Pombal, os quatro foram executados a tiros de rifle – muito provavelmente numa “queima de arquivo” ordenada pelo coronel José Queiroga.
Um dos executados, Antônio Ferreira de Oliveira, vulgo Graveto, era natural de Pombal e irmão de Barnabé, acusado de participar de um plano fracassado para resgatá-lo da prisão. Graveto havia sido preso em 15 de abril de 1922 e morto apenas três dias depois, junto com oitos três cangaceiros de nome Francisco Clemente, Manuel Santana e Gustavo Santana.
A prisão de Graveto foi comunicada pelo delegado José Avelino de Queiroga em telegrama ao chefe de polícia:

Zona rural de Pombal: cruzes na rota do cangaço
“Pombal, 15 – Chefe de Polícia Paraíba – Diligência comandada Sargento George, capturou Francisco Ferreira de Oliveira, vulgo Graveto, que interrogado confessou sua coparticipação ataque Pombal, a fim de tomarem o preso Barnabé. Saudações. José Avelino, delegado.” (Fonte: O Norte, 18 de abril de 1922)
Segundo o delegado, Graveto confessara apenas a intenção de resgatar o irmão, sem envolvimento nos assaltos de fevereiro. Na madrugada de 19 de abril, os quatro presos foram retirados da cadeia sob alegação de transferência para Patos. No caminho, no sítio Jatobá da Estrada, foram fuzilados.
Imediatamente após a execução dos bandidos o delegado justificou a ação em novo telegrama:
“Pombal, 20 – Aditamento do meu ofício de ontem, levo ao vosso conhecimento que, ontem mesmo, os presos Antônio Ferreira, vulgo Graveto, Francisco Clemente, Manuel Santana e Gustavo Santana, foram alcançados em forte correria. A força de emergência perdeu-os, disparou descargas contra os mesmos, resultando mortes todos quatro. Saudações. José Avelino, delegado.” (Fonte: O Norte, 26 de abril de 1922)
O caso repercutiu na Câmara dos Deputados, onde o deputado Otacílio de Albuquerque solicitou explicações ao presidente do estado, Solon de Lucena que por sua vez encaminhou uma versão oficial divergente:
“É inverídico o suposto fuzilamento atribuído a soldados de polícia. […] Acontece que, a seis léguas de distância, a escolta foi inopinadamente atacada por desconhecidos, estabelecendo-se terrível conflito, tentando os presos fugir. Em emergência, deu-se a reação, da luta resultou a morte consecutiva de dois dos cangaceiros, saindo feriado os dois outros que faleceram depois. Tudo isso ficou apurado em inquérito presidido pelo Severino Procópio. Cordiais saudações – Solon de Lucena.” (Fonte: Gazeta de Notícias, 6 de junho de 1922)
Posteriormente, a comunidade marcou o local exato das execuções com quatro cruzes gravadas sobre as rochas. O lugar ficou conhecido como “As Cruzes do Jatobá da Estrada” – símbolo perene de um ato de violência extralegal que evidenciava, na prática, a pouca diferença entre a volante policial e os bandos de cangaceiros: ambos serviam, em última instância, aos interesses do coronelismo.
Até os dias de hoje, as cruzes permanecem no local, como memorial silencioso de uma história de justiçamento e da violência que assolava os sertões na primeira metade do século XX, e possuem notável potencial para integrar a “Rota do Cangaço”, circuito turístico dedicado à história de Lampião e seu bando no sertão nordestino.
Localizado no território do município de São Bentinho na Paraiba, o local guarda a memória de um episódio concreto daquele período: a morte dos cangaceiros Antônio Ferreira de Oliveira (Graveto), Francisco Clemente, Manuel Santana e Gustavo Santana. As quatro cruzes precisam ser restauradas e identificadas com o nome de cada umas das vítimas executas, além de sinalização a trilha desde a comunidade de Arruda Câmara até o local
Para transformar essa memória em um ativo cultural e econômico, é fundamental uma ação estruturada.
O cerne da proposta transcende qualquer juízo de valor sobre o fenômeno do cangaço. Trata-se de uma visão prática e progressista: transformar um patrimônio histórico já existente em uma fonte concreta de renda e desenvolvimento local, gerando oportunidades para guias, artesãos, comerciantes e toda a comunidade, ao atender ao crescente interesse de turistas e pesquisadores por essa temática.
*FONTE: Ulysses Liberato: Um cangaceiro a serviço do Major José Inácio do Barro”, de José Tavares de Araújo Neto & Jerdivan Nóbrega de Araújo – Editora Ideia)
