Por José Tavares de Araújo Neto
Há pessoas que passam pela vida deixando rastros leves, quase imperceptíveis, mas que permanecem de modo profundo. Thomas era assim. Sua presença não se impunha pelo ruído, mas pela constância; não se afirmava pelo excesso, e sim pela coerência entre gesto, palavra e silêncio.
Havia nele uma forma rara de estar no mundo: sereno, atento, inteiro.
O que mais marcava em Thomas Bruno era essa capacidade de permanecer. Um sorriso manso, quase sempre presente, anunciava antes da fala a disposição para ouvir.
Sua presença não ocupava espaço — oferecia acolhimento. Era daqueles que chegavam sem alarde e, ainda assim, deixavam rastro.
Conheci Thomas antes mesmo de apertar-lhe a mão. Foi por meio de seus textos, que semanalmente chegavam até mim pelas mãos fraternas de meu irmão, Jerdivan Nóbrega. Havia neles uma escrita precisa, sensível, de quem respeita a palavra e compreende o silêncio.
Textos que não pediam aplauso, mas ficavam.
Intrigado, perguntei a Jerdivan quem era aquele autor de escrita tão cuidadosa. Ele respondeu com naturalidade:
“É um amigo meu, de Campina Grande. Thomas Bruno .”
O encontro presencial aconteceu no dia 19 de agosto de 2023, durante um evento do Borborema Cangaço. Reuniu nomes queridos como Julierme Wanderley, o prefeito José Elias, o saudoso Carlos Antônio — então presidente do IHGG e secretário de Meio Ambiente —, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, além de professores, pesquisadores e amantes da nossa história, como Pereira, Daniel Duarte, Fabiana Agra e Hesdras Souto.
Naquela ocasião, apresentei-me a Thomas como irmão de Jerdivan. Ele sorriu, com aquela serenidade que lhe era própria, e disse que já conhecia meu trabalho, que acompanhava meus escritos com atenção, mas que não imaginava que eu fosse irmão de seu amigo. O sorriso se ampliou, como se aquela descoberta apenas confirmasse uma afinidade que já existia em silêncio.
Daquele encontro em diante, nasceu uma amizade feita de respeito, admiração e partilha. Conversávamos sobre literatura, história, memória, mas também sobre as coisas simples da vida. Falávamos de tudo — inclusive de futebol. Dividíamos a mesma paixão pelo Corinthians e pelo Treze de Campina Grande, times que nos uniam em provocações leves, risos e cumplicidades que iam além das palavras.
Em todos os encontros, ele se mantinha o mesmo: atento, generoso, coerente — alguém cuja postura confirmava, silenciosamente, a integridade do que escrevia e defendia. Sua presença trazia calma; sua escuta, acolhimento.
Sua partida deixa uma lacuna profunda. Perde o Instituto Histórico e Geográfico do Cariri, perde o Borborema Cangaço, perde a cultura paraibana um de seus mais atentos e sensíveis colaboradores.
Perdemos nós, amigos, o convívio sereno, a palavra justa, a presença que não precisava se impor para ser reconhecida.
Fica, contudo, o legado.
Ficam os textos, os gestos, o sorriso tranquilo e a memória de um homem que soube viver com dignidade, escuta e inteireza.
A Thomas, nossa gratidão.
À família, o abraço solidário .E a nós, o dever de seguir adiante, guardando sua lembrança como quem preserva algo essencial.
#José Tavares é historiador e pesquisador
