Por José Tavares

No livro “A Odisseia de José Américo de Almeida na Revolta de Princesa”, a família Dantas, da Serra do Texeira, destaca-se como um dos grupos mais profundamente envolvidos nos eventos dramáticos da Revolta de Princesa (1930), tanto na resistência armada quanto nas tramas políticas e nos episódios trágicos que culminaram no assassinato de João Pessoa.

Conflito em Teixeira

A figura central era o influente chefe político de Teixeira  Dr. José Duarte Dantas,  ferrenho opositor de João Pessoa e aliado de José Pereira e João Suassuna, este último casado com sua prima.

Os irmãos  Alfredo (Dodô) e Manuel (Dantinha), cunhados de João Suassuna, atuaram como mensageiros entre Suassuna e o coronel  Zé Pereira, contribuindo na articulação estratégica da Revolta.

Na manhã de 28 de fevereiro de 1930, a  residência de Silveira Dantas  foi violentamente atacada pelas forças governistas comandadas pelo tenente Ascendino Feitosa, resultando em intensos combates, prisões arbitrárias e na exposição da família à violência física e moral. Silveira Dantas e outros parentes, resistiu à bala, e mulheres da família foram feitas reféns, inclusive idosas e donas de casa.

Rompimentos familiares e articulações políticas: O conflito também dividiu laços de sangue. O coronel Joaquim Saldanha, primo de Duarte Dantas, rompeu com a família e se aliou a João Pessoa, chegando a formar milícias para combater os “revoltosos” — referindo-se à “trindade sinistra”: Duarte, Suassuna e Zé Pereira.

O sequestro de Joaquim Dantas

Durante o acirramento do conflito, Joaquim Dantas, irmão de João Dantas, foi sequestrado por adversários políticos. O episódio foi interpretado como uma represália ou forma de intimidação à atuação de João Dantas e seus aliados. Esse sequestro agravou ainda mais os ânimos da família e simbolizou o colapso da legalidade na Paraíba daquele período.

Invasão do apartamento e divulgação de documentos

O episódio mais humilhante para a família Dantas ocorreu com a invasão do apartamento de João Dantas, no Recife. A mando do governo, forças policiais invadiram seu lar e divulgaram cartas íntimas e documentos pessoais, expondo publicamente a relação amorosa entre João Dantas e Anayde Beiriz. A difamação atingiu proporções escandalosas, com os jornais governistas publicando as cartas para ridicularizar Dantas e minar sua imagem pública.

O assassinato de João Pessoa

Profundamente ferido em sua honra e pressionado por perseguições políticas, João Dantas assassinou João Pessoa no dia 26 de julho de 1930, no Confeitaria Glória, em Recife. O crime causou comoção nacional e foi um dos catalisadores da Revolução de 1930, que depôs Washington Luís e levou Getúlio Vargas ao poder.

João Dantas foi preso e, dias depois, encontrado morto na prisão: Este conjunto de eventos marca a trágica trajetória da família Dantas como símbolo da violência política, da vingança pessoal e da ruptura institucional que caracterizou a Paraíba nos anos que antecederam a Revolução de 30.

A família, outrora poderosa, tornou-se mártir e vilã ao mesmo tempo, sendo lembrada como protagonista de um dos episódios mais dramáticos da história política brasileira.

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